Economia carioca: pelo trabalho, sempre!

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A cultura tem papel destacado na economia do Rio de Janeiro I Foto: Divulgação Pede Teresa

A cidade do Rio de Janeiro é, ainda, um dos maiores polos industriais do país; não tanto pela extensão da plataforma operacional da atividade produtiva, uma vez que as maiores empresas aqui instaladas têm base expandida em outras regiões do estado e do país, mas pela concentração dos ativos que têm sede de inteligência administrativa na nossa cidade maravilhosa (não tanto). Cabe ressaltar, contudo, que os investimentos de base, a posição estratégica e o legado logístico permanente que estabeleceram a capital fluminense como centro da atividade econômica por muito tempo entregam vantagens ainda salientes que podem – e devem – ser exploradas por um plano de desenvolvimento das forças produtivas e, ainda, recuperar e recompor as contas públicas com responsabilidade fiscal, na esteira da recuperação gradual do o PIB da carioca.

Destaca-se, nesse cenário, a atividade de transformação farmacoquímica, instalada ao longo da zona oeste da cidade. Mesmo em franco declínio e com desmonte e falência, além do choque no mercado de trabalho por conta da concentração oligopolista que o setor apresentou ao longo dos últimos 15 anos, acelerado em relação à automatização da produtividade, a atividade na cidade é, ainda, a maior do Brasil.

Em que pese também o desmonte do setor de transformação têxtil e dos polos da região de Benfica, Grande Tijuca e Bangu e adjacências, também somos um dos maiores produtores de tecidos do Brasil, o que ajuda a impulsionar o mercado de confecção, que, estruturado por terceirização de força de trabalho, mantém-se constante nos últimos 10 anos. A demanda pelos bens da base, nesse caso, pressiona imediatamente a demanda por força de trabalho, que chega às confeccionistas e cooperativas, esta última uma das formas de associativismo que mais cresceu nos últimos anos.

Classicamente, a indústria da cultura, que também foi afetada pelas novas formas de organização e captura da força de trabalho, atravessada pela precarização das relações trabalhistas, responde por parte significativa do fluxo real da economia carioca. Impulsionada e aquecida, também, pelo aumento do nível de renda das trabalhadoras e trabalhadores, além dos investimentos estatais diretos e indiretos, via renúncia fiscal, este setor foi fortemente afetado por conta da implementação de políticas de austeridade econômica pouco criativas e pelas medidas muito questionáveis em relação à recuperação fiscal, as quais são, no mínimo, pouco criteriosas, equânimes e muito obscuras. De modo geral, o corte das políticas municipais indiretas de financiamento de cultura via Secretaria de Cultura, Riofilmes e outras foi significativo.

Na base da atividade econômica da Cidade estão, em grossas linhas, uma nada desprezível estrutura física e logística de produção, aliada e diretamente relacionada à oferta de serviços que gira em torno dessa e sofre, com maior rapidez e alto nível de sensibilidade, desmontes e choques de ajustamento de investimento, recomposição de força de trabalho e desinvestimento estatal. Com esse cenário de equilíbrio pouco comum em comparação às outras cidades médias e grandes do país, no Rio de Janeiro, uma política original, com foco no aumento da renda do trabalho e relação  vetorial direcionada ao incremento das economias do lazer e da cultura, aliada ao fortalecimento do sistema de assistência social em sentido lato, tende a causar elevação relativamente rápida da atividade econômica, impulsionando, necessariamente, investimentos.

Trocando em miúdos: não há necessidade de um estímulo direto e desordenado em função de aumentar a atividade de transformação porque, decorrente das estruturas de produção montadas na cidade e sua rede, o que permanece na cidade, o que fica e o que flutua tende a não se alterar, a não ser que haja novo vulto de reacomodação nacional e atração, o que, neste momento, é basicamente impossível. O que assistimos, pois, é uma retração da capacidade que preocupa, muito. É, portanto, pelo estímulo aos setores de serviços e laser e à cultura que se pode manter, em certo sentido, a atividade econômica, apostando num vetor original, o que, de certo modo, terá impactos na indústria de transformação, alterando-se a lógica convencionada. Talvez essa seja a peculiaridade da cidade do Rio.

Nesse sentido, o que importa a um governo da cidade fazer é rever a política de concessão de isenção de impostos a indústrias cujo impacto no desenvolvimento, pela geração de empregos diretos e indiretos, é baixo, concedendo, outrossim, segurança para a circulação de vendas ambulantes e estimulando essas e esses trabalhadores a formalizarem a atividade, por meio de imposto progressivo e com retorno verificável. Estimular a profissionalização dos coletivos de cultura, sua autossuficiência e a desconcentração das atividades de forma a fortalecer também as redes e setores que giram em torno dessas atividades, para além do eixo centro-zona sul.

Nada disso adiantará se não houver um forte compromisso com alargamento da rede de saúde e oferta de educação, além de uma outra política de ligação da cidade que atenda mais e melhor os fluxos urbanos cotidianos. Nada disso adiantará se o eixo da política econômica do prefeito não for centrada no aumento real da renda do trabalho através do tamanho da intervenção na economia, o que um gestor municipal de uma cidade que, como poucas, atende ao chamado criativo para o consumo, a produção a geração de renda podem fazer.

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