Eleição não é revolução

É importante que se diga: nem em processos revolucionários de ascensão das forças progressistas ao poder a esquerda operou isso de maneira estreita e exclusivista

Revolução Russa | Foto: Reprodução

Na medida que o quadro de alianças da candidatura de Luís Inácio Lula da Silva vai se cristalizando aumentam as críticas a uma possível amplitude da mesma por parte de setores da chamada “extrema esquerda” e mesmo de alas petistas nos estados, fruto das contendas com governantes locais, seja por ranço sindical ou mesmo por disputas travadas em outros pleitos por prefeituras e governos de estado contra esses partidos que apoiarão Lula.

É importante que se diga: nem em processos revolucionários de ascensão das forças progressistas ao poder a esquerda operou isso de maneira estreita e exclusivista, sempre buscou alianças, foi assim na Rússia, China, Cuba e outras nações.

Mas, algumas vezes, parece que o exercício de sectarismo vem embebido da lógica de uma “pureza”, a ideia de que para governar seria preciso não se aliar, “não se misture com essa gente”, como dizia Dona Florinda para o Kiko no clássico seriado Chaves.

Só que isso não existe nas eleições (e nem mesmo nas revoluções…), essas são na essência espaços para se desenvolver alianças, articular forças em busca da governabilidade e na ideia de assegurar maioria parlamentar nas duas casas para garantir a aprovação de melhoras na qualidade de vida de nosso povo.

Isso é ainda mais evidente em momentos da ultradireita no poder. Descolar setores de centro, e até mesmo de direita, é decisivo para garantir a vitória e governar. Precisa ser algo amplo, construído em frente ampla, plural, democrática, para devolver o Brasil aos trilhos da democracia, do respeito à Constituição e garantia dos direitos, o retrocesso é tamanho que isso vem antes da busca por novos direitos, algo também necessário.

Mas como conviver com essa gente, esses setores que não são de esquerda? De maneira democrática, entendendo que representam parte importante de nosso povo, e também buscando construir núcleos nos governos, esses sim formados e apoiados por forças mais a esquerda, só que isso pode se viabilizar apenas se tivermos votos do eleitorado para tal, senão é puro idealismo.

Nesse contexto, a federação que se constrói gradualmente, tijolo por tijolo, formada por PT, PSB, PCdoB e PV pode ocupar um importante espaço no legislativo, ser uma impulsionadora do novo governo, mas o desafio para isso é grande, requer voto nos nossos candidatos e que as mangas sejam arregaçadas para construir uma boa bancada. Ainda assim, precisaremos do centro, e até mesmo da direita. A vida é assim, faz parte do jogo, conviver com os diferentes é parte disso, é componente do comportamento civilizatório e democrático.

Agora, como conviver será a correlação de forças que vai pautar… então, ao invés de reclamar, vamos atrás de votos para acumular forças e mandatos e poder sentar à mesa com mais autoridade e representatividade.

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