Eleições: fragmentos da luta de classes

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Enquanto não tenhais força para dissolver o parlamento burguês e qualquer outra organização reacionária, vossa obrigação é atuar no seio dessas instituições” – Lênin.

Onde ocorreram processos eleitorais nos últimos meses, as forças políticas de esquerda podem tirar lições para atuação nas democracias liberais em tempos de crise do capitalismo e radicalização política, aprofundados pela pandemia do novo coronavírus. O avanço da extrema-direita, seja através de vitórias eleitorais ou através de golpes, parece ter começado a sofrer um revés.

Na Bolívia o, MAS – Movimento ao Socialismo, partido de Evo, não aceitou o golpe miliciano de cabeça baixa e mobilizou as suas bases, os movimentos sociais em grandes protestos por todo o país, pressionando o governo golpista provisório até as novas eleições, onde tiveram vitória acachapante de Luis Arce, correligionário de Morales e fizeram maioria no parlamento.

No Chile, após um ano de revoltas populares que levaram milhões de pessoas, em sua maioria jovens, quase que diariamente às ruas, o país decidiu em um plebiscito com vitória esmagadora derrubar a Constituição neoliberal implementada na Ditadura Militar de Augusto Pinochet e convocar uma Assembleia Constituinte independente, eleita com paridade de gênero, para definir a nova Constituição do país. Vitória de um amplo espectro político e social.

Já no império estadunidense, governado pelo fascista Donald Trump, estouraram revoltas populares e protestos após uma série de violências policiais e assassinatos de negros. O país vive uma escalada de violência e conflitos armados a céu aberto entre grupos supremacistas brancos e o movimento “Black Live Matters”. Isso, em meio a eleição que pode decretar a queda de Trump*.

As lições que podemos tirar desses processos, guardada as devidas especificidades de cada um, demonstram que o resultado favorável para a esquerda na eleição Boliviana, da vitória no plebiscito chileno e possivelmente a derrota de Trump nas eleições norte-americanas, se devem a intensa mobilização popular e a reorganização política dos campos progressistas, somado a táticas de frentes amplas que enfrentem a extrema-direita.

Para além disso, o resultado eleitoral não pode ser um fim em si mesmo, a eleição é um fragmento da luta de classes em sua expressão política. A extrema-direita já demonstra que não aceitará pacificamente a derrota nas urnas na Bolívia, exemplo disso é a escalada de violência em Santa Cruz e por último um atentado a dinamites na Casa do presidente Luis Arce.

Nos Estados Unidos, mesmo que ainda não tenha um resultado declarado, tudo indica que Trump perderá a eleição. Esse também não demostra disposição de largar o poder de maneira pacífica, anunciando um golpe em rede nacional desconhecendo a legitimidade do processo eleitoral. Desta forma, o fascista pretende estimular em sua base atos de violência nas ruas para defender a sua continuidade ao poder. Os EUA, especialistas em golpes de Estado por todo o mundo, podem agora ter um golpe dentro de casa.

Mais que a disputa eleitoral, a ocupação dos espaços institucionais neste momento serve para deter o avanço fascista e uma possível hegemonia da extrema-direita, mas não pode ser a única saída. Mesmo que a vitória de Biden nos EUA não seja o melhor dos mundos para os trabalhadores e não signifique o fim da exploração imperialista, a derrota de Trump tira a referência de líderes fascistas em outros países, porém, a luta continuará também fora das instituições até que o fascismo seja enterrado junto com o neoliberalismo e as suas ramificações. Jamais se poderá perder do horizonte a luta político-ideológica.

No Brasil por exemplo, Bolsonaro ficará enfraquecido e perderá um aliado nas suas teorias da conspiração negacionistas e delirantes. Por aqui também teremos eleições municipais, uma ótima oportunidade para darmos uma resposta ao bolsonarismo nas urnas. Entretanto, diferentemente dos outros processos eleitorais citados, no Brasil a esquerda aceitou o golpe de 2016 de maneira pacífica, sentiu muito a derrota e ainda não saiu das cordas.

Como não existe vácuo de poder, o eleitorado brasileiro deve se mover para o centro político, hora aliado da direita em alguns lugares, hora aliado da esquerda. A incapacidademdo campo progressista brasileiro em atuar de maneira coesa e estabelecer uniões em locais estratégicos, infelizmente poderá deixar ainda grande parte do poder para a extrema-direita e seus aliados de momento.

Não existirá vitória eleitoral sem organização das bases e sem união de forças políticas democráticas e populares, muito menos haverá horizonte revolucionário sem a ocupação das instituições pelos trabalhadores. Assim volto a citar Lênin: “a participação nas eleições parlamentares e na luta através da tribuna parlamentar são obrigatórias para o partido do proletariado revolucionário, precisamente para educar os setores atrasados de sua classe, precisamente para despertar e instruir a massa inculta e oprimida”.

Luta política e institucional, nas ruas, nos parlamentos e governos, nos corações e nas mentes! Frente ampla para derrotar a extrema-direita e unidade para transformar a sociedade em direção ao socialismo!

* Coluna escrita no sábado (7/11), ainda sem a confirmação do resultado das eleições americanas.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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