Em defesa da pluralidade e da educação para todo o Brasil

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A pesquisa feita a partir do software de monitoramento Torabit retrata o processo de disseminação do preconceito e do discurso de ódio que marcam o Brasil e o mundo nos últimos dez anos, espalhado principalmente através das redes sociais.

Esse discurso levou a eleição de presidentes em diversas nações a partir de plataformas populistas apoiadas em mentiras (Trump, Bolsonaro, Urban, Johnson, etc.) e acabam por tentar mudar o construído no que tange aos direitos humanos, educacionais, sociais ao implementar desmontes de políticas públicas a partir do discurso calcado em preconceito que operam.

Isso atinge diretamente a visão que o mundo, e nós mesmos, havíamos edificado sobre os brasileiros, sempre fomos tidos como um povo de visão ampla, plural e tolerante no geral, o que a pesquisa mostra não é isso, nos apresenta um Brasil já contaminado por essa nova onda, e isso põe em xeque, como dissemos, o processo educacional e as conquistas já obtidas nesse campo da sociedade e em outros.

Ribeiro (2014) já nos apresentava em sua obra O Povo Brasileiro a opinião de que somos uma nação profundamente plural e miscigenada, tanto que chamou nosso povo nativo de “brasis” e aqui nesse livro retratou todo o processo de sincretismo social, cultural e antropológico. 

Os próprios marcos legais que pautam a educação vem sendo rediscutidos, a compreensão desses, sua efetiva aplicação, em particular ganhando os pais, estudantes, professores e todos aqueles que estão na escola para o debate, é fundamental para fazer frente a onda conservadora que ameaça o até aqui conquistado, em particular quando tratamos de particularidades no processo educacional, como a educação especial que ainda requer maior consolidação do construído, e justamente por isso precisa ser mais protegida e defendida.

Se insere nesse contexto e nesse debate o construído na Declaração de Salamanca, por exemplo, ao aclarar que a deficiência não constitui necessariamente sinônimo de necessidade especial, com isso colabora na perspectiva de combater as terminologias pejorativas, ou mesmo negativas, ao tratar as pessoas com algum tipo de deficiência.

É aqui que se insere a preocupação de estarmos construindo historicamente um processo educacional escolar com viés homogeneizante, ao fazer isso, tentando estabelecer um formato padrão para o estudante, e principalmente para o processo de aprendizagem, negamos o Brasil plural em que o mesmo está inserido, reforçando as diferenças, alargando o fosso entre os estudantes na escola, gerando uma segregação educacional.

Por isso, para planejarmos atividades que apontem o processo de ensino-aprendizagem numa perspectiva inclusiva se fazem necessárias políticas educacionais que absorvam a todos, respeitando as peculiaridades de cada aluno e buscando amplitude e pluralidade na edificação de valores, códigos, respeito entre os participantes e estímulo moral, como defendia Vygotsky (1994).

Em um momento complexo como esse que vivemos, defender, propagar e dialogar com o construído sobre educação inclusiva, inclusive nos textos legais, é proteger o Brasil colorido, plural, profundamente miscigenado e historicamente construído na herança histórica que dialoga com os povos mais variados e com os nossos nativos. 

Nunca é demais lembrar que somos todos parte desse grande país, com todas as suas contradições e sua História, e que combater a onda conservadora que ameaça direitos precisa ser um movimento feito simultaneamente com a defesa do conquistado até o momento nas políticas públicas.

Referências

DARCY, Ribeiro. O Povo Brasileiro. São Paulo: Global, 2014

VYGOTSKY, Lev. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

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