Em tempo de eleição o Partido precisa ser igual a Corrida de São Silvestre: o ponto de chegada é o ponto de partida

É preciso considerar que as eleições são disputas políticas, lutas de classes, em modo concentrado em um curto espaço de tempo, antecedido por movimentos intensos das forças políticas que disputam o comando do Estado

Foto: Arquivo PCdoB

Quem já assistiu a tradicional Corrida de São Silvestre, todo final de ano em São Paulo, sabe que tudo começa e termina na Avenida Paulista. Com 15km de trajeto, os (as) atletas percorrem um percurso que os leva a uma volta pela região central estendida da capital paulista, sendo que a fase final é a temida subida da Brigadeiro Luiz Antonio. Boa parte dos (as) corredores (as) ficam pelo caminho, principalmente na subida da Brigadeiro. Em linguagem popular, é o famoso, “chorar na rampa”. Seja como for, quem termina a corrida volta ao ponto de partida, a mais paulista das avenidas.

Eleições precisam ser assim, só que ao invés de iniciar e terminar as campanhas na Avenida Paulista, nosso ponto de partida e de chegada é o Partido Comunista do Brasil. Projetos eleitorais sempre são articulados em torno de duas vertentes: a essencial, que é a busca pelo fortalecimento político do PCdoB, a luta pela ampliação do nosso espaço junto à sociedade, a expansão da nossa influência, por um lado, e os interesses próprios das candidaturas e suas bases de apoio. Preferencialmente, os interesses de candidatos (as) devem, ou deveriam, estar conectados o máximo possível aos do PCdoB. Nem sempre é assim, como sabemos, já que as disputas eleitorais possuem regras e dinâmicas próprias e a filiação de lideranças ao partido com perspectiva eleitoral geralmente comporta um movimento mais largo do que os objetivos táticos e estratégicos que traçamos. Mas é essencial que seja e lutemos, como militantes e quadros dirigentes para que assim seja!

Toda disputa eleitoral é antecedida pelo processo de filiação de novas lideranças, de novas forças que chegam ao PCdoB e isso é de grande importância para a lógica geral que buscamos implementar para fortalecer o Partido. Evidente, contudo, que as disputas eleitorais comportam um conjunto de variáveis que nos afetam profundamente, negativa ou positivamente, conforme cada conjuntura ou cada quadra histórica mais alargada. Ambientes políticos mais favoráveis ao pensamento progressista nos permitem, em geral, termos mais avanços, enquanto o oposto, um momento de intensa regressão do nosso campo, geralmente nos conduz a insucessos eleitorais, como nos é plenamente sabido na quadra histórica que compreende o período 2014-2020. Eleições, e principalmente pós-eleições, são momentos de fluxos e refluxos, conforme as vitórias e derrotas.

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Olhando o quadro todo, é preciso considerar que as eleições são disputas políticas, lutas de classes, em modo concentrado em um curto espaço de tempo, antecedido por movimentos intensos das forças políticas que disputam o comando do Estado, com desdobramentos profundos após encerradas. Eleições são disputas em amplo espectro: do nosso partido com outros partidos e dentro do nosso partido. A busca por uma inserção eleitoral maior, nos levou a romper anos atrás com o sistema de concentração quase absoluto em uma ou duas candidaturas para os legislativos em especial. Buscamos ousar no projeto lançando em muitos estados e municípios as “chapas próprias”, e agora, em função da construção da nossa Federação com PT e PV, voltamos a adotar um processo mais concentrado, especialmente para a disputa à Câmara Federal e projetos um pouco mais amplos para as Assembleias Legislativas. Com projetos restritos ou amplos, o fato concreto é que existe uma intensa disputa dentro do próprio partido, particularmente quando há diversos (as) concorrentes para o mesmo posto. É aqui que mora o problema.

A montagem de campanhas eleitorais, sabemos, demanda o engajamento de militantes, quadros e recursos materiais. É sempre necessário que as direções partidárias adotem os devidos cuidados para evitar um processo interno de autofagia, ou seja, que candidatos (as) entrem em uma guerra interna por estruturas de campanha. Guerra que já resultou, em vários momentos, na ruptura da unidade partidária e no desligamento de militantes que disputaram eleições e terminam o processo considerando-se preteridos, derrotados, não pelo eleitorado e pelas conjunturas políticas, mas por não terem tido a devida atenção e investimento do partido. Ao menos é isso que pensam.

Sendo disputa interna, também, todo processo eleitoral necessita de acompanhamento integral das direções partidárias especialmente para buscar garantir que as contradições inerentes a quaisquer disputas entre nossos quadros eleitorais se concentrem nos limites do respeito ao projeto geral traçado pelos respectivos comitês. É sempre importante considerar que, geralmente, candidatos (as) tendem a acreditar que podem ser eleitos (as) e que eles (as) e suas respectivas coordenações de campanha buscam fazer todos os movimentos possíveis para angariar mais apoio, mais estrutura, mais quadros e militantes. Logo, os projetos eleitorais precisam estar equilibrados de modo a potencializar a ação das diversas candidaturas para o sucesso eleitoral do Partido. Não é tarefa simples, mas é essencial. Porque, se o PCdoB – e o projeto político delineado – é o ponto de partida, o resultado eleitoral, seja vitória ou derrota, terá como ponto de chegada o próprio partido, que, à luz dos resultados, reorienta o projeto traçado. Nas vitórias, tudo fica mais fácil. Nas derrotas, as contradições se acirram, tornando-se ainda mais intensa a necessidade da manutenção da unidade política, que não se constrói por decretos.

Mais segurança terá o projeto eleitoral, e seus desdobramentos encerradas as eleições, quanto maior for o grau de compreensão dos quadros eleitorais sobre os objetivos táticos e estratégicos do PCdoB. Portanto, uma das tarefas imprescindíveis dos comitês partidários é o fundamental trabalho prévio de preparação política e teórica dos quadros eleitorais. Maior o comprometimento de candidatos (as) com o projeto geral do Partido, menor a possibilidade de termos abandono das fileiras partidárias após o processo eleitoral, em especial quando o projeto não é vitorioso. Maior compreensão política dos candidatos (as) sobre o projeto partidário – tático e estratégico – menores são os conflitos causados pela busca de estrutura para suas respectivas campanhas.

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