Em tempo real. Será?

Na sociedade contemporânea, a internet é a menina dos nossos olhos. Mas é bom saber que ela tem donos

Foto: Ketut Subiyanto/Pexels

“Em tempo real” tornou-se uma das expressões mais usadas na atualidade. Sinal de eficiência.
Será?

Tenho cá minhas dúvidas, por experiência própria.

Explico.

Quando leio algo escrito sobre papel, sinto-me compelido a dedicar alguns segundos mais a compreender melhor a informação.

Mas quando se trata de uma “postagem” em alguma plataforma digital, quase inconscientemente me vejo desafiado a apreender o conteúdo em fração de segundos.

Como que para provar que sigo lúcido, raciocinando com a agilidade necessária.

Por isso desconfio que se perde muito em conteúdo do que se lê em mensagens transmitidas numa fusão de palavras escritas ou em áudio e imagens atraentes, seja em vídeos curtos ou cards.

Os terráqueos da terceira década do século 21 se informam, e formam a sua opinião, através de mecanismo que superestima a variável tempo em prejuízo da qualidade do raciocínio. 

Em consequência, muito se sabe (ou se pensa que sabe) e pouco se entende (ou se entende de modo atravessado).

Prato feito para a classe dominante, numa sociedade cada vez mais marcada pela discrepância entre pouquíssimos que detêm quase toda a produção, a riqueza e a renda e as grandes maiorias crescentemente empobrecidas.

Karl Marx e Friedrich Engels demonstraram em “A ideologia alemã” que todas as formas de comunicação são utilizadas em favor de um pretenso consenso no conjunto da sociedade, cujo conteúdo essencial é a acomodação ao status quo. 

Na sociedade contemporânea, a internet é a menina dos nossos olhos. 

Mas é bom saber que ela tem donos e embora pareça nos facilitar a vida — e em certos aspectos facilita mesmo —, serve fundamentalmente para nos conduzir a um modo de vida que reproduz o lucro dos que detêm o capital e à acomodação ao mundo como ele é, e não como deveria ser para o bem de todos.

Escrevi essas mal traçadas linhas em pouquíssimos minutos, literalmente “ditando” o conteúdo ao smartphone, que o reproduziu no bloco de notas.  

Isto após resolver umas tantas coisas à distância, enquanto repouso numa rede no alpendre aqui da casa onde permaneço com a família por alguns dias de lazer de fim de ano. 

Tudo fácil assim com ajuda da tecnologia digital, porém arriscoso. 

Refletir sempre sobre o que acontece e o que fazemos segue indispensável, ainda que “desperdicemos” alguns minutos mais.

Para que tenhamos uma prática consciente e transformadora.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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