Esconde-esconde: brincadeira de criança e de tucanos

Quando criança, na rua onde morávamos, garotos e garotas se reuniam ao final das tardes para brincar de esconde-esconde. Lá ia um dos escolhidos, ou imposto, para o pique, local onde todos os envolvidos na brincadeira deveriam chegar para salv

O pegador de esconder era o responsável para procurar os demais. Contava até cinqüenta, sem olhar a movimentação e os esconderijos, e gritava em alto e bom som “lá vou eu” e ia à procura dos escondidos.

Volto à minha infância em Belo Horizonte e transporto-a para a situação política que vivemos nos últimos dias em nosso país. Durante alguns meses o debate interno na legenda dos tucanos, o PSDB, ostentava a possibilidade de pelo menos quatro pré-candidatos à presidência da República: FHC, Serra, Alckmin, e Aécio Neves, nesta ordem de prioridades.

Dos quatros pré-candidatos cada qual apresentava um perfil psicológico e uma forma de fazer política diferente. FHC pousava com toda sua soberba e vaidade, que é peculiar, como o candidato do possível consenso, do estadista que tentou ser e nuca foi. Serra e Alckmin faziam o jogo do agora é minha vez. O primeiro por ter disputado, o segundo turno das últimas eleições com o Presidente Lula, apesar da surra, cumpriu a difícil missão de defender o governo de FHC. O segundo da hierarquia tucana, o governador de São Paulo Geraldo Alckmin considerava que depois de tantos anos a frente do principal Estado da Federação, não haveria outro postulante em melhores condições que ele próprio. Já o Governador de Minas, Aécio Neves, fez e se faz de tonto, como uma opção para 2010, para isto tirou quinze dias de férias em pleno início de campanha eleitoral.

Depois de muita crise interna, de idas e vindas, definiu-se pelo candidato Geraldo Alckmin, o opus dei de Pindamonhangaba. Definido o nome tucano, os “engenheiros” da chapa neoliberal lançaram na empreitada para aumentar o cacife eleitoral, aliando-se a outras legendas partidárias. O que parecia um passeio tranqüilo e sereno, demonstrou e continua a demonstrar o quanto de divergências acumularam os setores da direita neoliberal no Brasil e no mundo, que em síntese continuam defendendo as privatizações, a Alca, a abertura da economia nacional, a flexibilização das relações trabalhistas e previdenciárias, a macroeconomia ortodoxa, todas essas, como única alternativa política para o Brasil.

A chapa que busca reeditar o projeto da era FHC, de forma ainda pouco explícita, conseguiu reunir além do velho PFL, o PPS do Senador Tucano, digo pernambucano, Roberto Freire. Entretanto, a noiva da vez, o PMDB, definiu em convenção nacional não lançar candidato à Presidência da Republica, embora em vinte e um estados, ter optado pelo apoio ao candidato Luiz Inácio da Lula da Silva, que vai às ruas com o seguinte slogan: Lula de novo, a força que vem do povo.

O processo eleitoral no Brasil está somente começando, principalmente depois da ressaca provocada pela apática seleção canarinho. Como se diz lá na minha terra, muita água vai passar por debaixo da ponte. Voltando à minha terra e a minha infância, lembro dos últimos acontecimentos do processo eleitoral. Fernando Henrique Cardoso, que pousava até pouco tempo como provável candidato, manteve ao longo do atual mandato uma interferência, no mínimo desleal em assuntos de Estado. Durante a crise provocada pelas CPIs articulou a sangria do governo e a tentativa de golpe. Em várias oportunidades foi à imprensa declarar o seu rompante autoritário, maquiado de democrata. 

Este senhor é o mesmo personagem que, nos últimos dias, foi proibido pelos marqueteiros da campanha de Geraldo Alckmin de proferir qualquer entrevista ou até mesmo aparecer em lugares públicos. Conforme avaliação do núcleo da campanha tucana a imagem de FHC e seu desgoverno, contribuem negativamente com a jornada eleitoral do seu companheiro de partido.

Triste fim de FHC, o Policarpo Quaresma às avessas. Primeiro pediu ao povo para esquecer o que tivera escrito, agora pedem que ele se esconda do povo, para evitar mais desgaste na campanha do seu candidato. Como de brincadeira, tentando forçar o povo a fechar seus olhos enquanto fazem sua movimentação e escondendo-se cada vez mais para que não nos lembremos do que foram seus anos de desgoverno.  Por isso, relembrando minha infância, proponho contar até cinqüenta, e sair do pique com todo o pique e procurar entre todas as mazelas do governo anterior o seu principal personagem, o escondido FHC, e relacioná-lo com o também tucano Geraldo Alckmin, o candidato que tenta esconder seu programa e seu fiador. Se for pra brincar, vamos brincar.

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