Estratégia e Tática: parece simples, mas nem tanto

“Tática é saber o que fazer quando há o que fazer; estratégia é saber o que fazer quando não há nada a fazer”. Tartakower.

Não é a primeira vez que escrevo sobre este tema. Estes dois conceitos recorrentemente voltam em meus escritos, pois são duas definições chave quando se pensa em política. Para ser exato, quando se pensa na grande política, como descrevi no artigo anterior.

Vamos então começar do início, ou seja, das respectivas definições. Estratégia vem do grego strategia, que significa: “plano, método, manobras ou estratagemas usados para alcançar um objetivo ou resultado específico”. A origem do seu uso não é clara, mas parece estar relacionada diretamente com a arte da guerra, sendo muito utilizada por Sun Tzu em sua obra de mesmo nome. Para Maquiavel, a estratégia estabelecia a ligação próxima e óbvia entre a política e o militar durante um determinado enfrentamento bélico.

A tática, ao contrário, pode ser definida como “um conjunto de métodos utilizados para conseguir a realização de um objetivo”. Parece semelhante com o conceito dado no parágrafo anterior, mas não é a mesma coisa. Talvez o principal ponto de diferença seja compreender que a tática nada mais é que uma ação específica. Se pensarmos em um exemplo simples, como uma batalha entre 2 exércitos, podemos raciocinar que a estratégia seja destruir o poderio militar do inimigo, enquanto a tática poderia ser um ataque surpresa a uma determinada instalação militar.

Desta forma, podemos dizer que para uma estratégia ser bem aplicada ela necessita de um planejamento pré-definido. A tática, portanto, faz parte da ação prática de uma determinada estratégia, ou seja, estratégia visa gerar oportunidades e táticas visam aproveitar estas oportunidades.

O conjunto de táticas, ou seja, de ações a serem feitas faz parte do planejamento estratégico, ou seja: a estratégia planejada guia as ações a serem feitas na busca de um objetivo. Saber aonde se quer chegar e o caminho para isso condiz com uma estratégia que tende a ser vitoriosa. Não saber para onde ir, ou seja, qual tática usar rumo a um objetivo pré-determinado, entretanto, mostra uma estratégia fraca, que tende a não dar certo.

Outro ponto que causa polêmica nestes dois conceitos tem a ver com a importância. Qual delas é mais importante? A tática ou a estratégia? Claro que não se pode desmerecer uma em relação à outra, mas só é possível uma tática sair como planejada se, e somente se, houver uma estratégia clara. Em resumo, a estratégia deve estar associada ao que fazer, enquanto a tática deve estar associada a como fazer.

Dito tudo isto, é importante voltarmos ao que comentamos no primeiro parágrafo, pois a batalha de exércitos não acontece somente no campo de guerra, mas também no campo das ideias. Na luta de classes, por exemplo, maior herança que o marxismo deixou para os trabalhadores e trabalhadoras, a dicotomia entre tática e estratégia também está presente ao longo da história recente de nosso país.

Em 1945, após cerca de 10 anos atuando de forma clandestina e com vários militantes políticos presos ou assassinados pela ditadura do Estado Novo, os comunistas conquistavam sua legalidade novamente. Seu maior ícone e líder, Luís Carlos Prestes, pouco depois de liberado de sua prisão política, com aval da direção de seu partido, declarou apoio a Getúlio Vargas, em nome da união nacional, para reconstitucionalização do país e a consequente sucessão presidencial.
O mesmo Vargas, que 10 anos antes havia deportado a judia alemã Olga Benário, então esposa de Prestes e dirigente comunista internacional, grávida para a Alemanha nazista, onde acabaria morrendo em um campo de concentração.

Pensar que alguém declarou apoio ao mandante do assassinato de sua esposa chega a chocar pessoalmente, mas a frieza de Prestes tinha um sentido, na verdade uma estratégia: conquistar de maneira definitiva a legalidade para o Partido Comunista participar das eleições que se sucederiam e eleger o maior número de parlamentares comunistas. Para isto, a tática era garantir as eleições de 1945, custe o que custasse.

A tática deu certo, foram eleitos 16 deputados federais e um senador, fora os quase 10% dos votos para o candidato à presidência Yedo Fiúza, mostrando que a tática ousada de Prestes serviu de maneira importante para a estratégia de então. Infelizmente, com esta estupenda votação que foi conquistada e com o bom trabalho parlamentar dos comunistas, no ano seguinte o então “Partidão” voltou para a ilegalidade…

Outro exemplo interessante de se lembrar, já no pós-ditadura militar, foi a escrita e aprovação da Constituição Federal de 1988, conhecida como Constituição Cidadã. Naquele momento, o maior partido de esquerda, PT, tinha se negado a assinar o documento (inclusive expulsando os parlamentares que assinaram, como a atriz Bete Mendes, então deputada constituinte) enquanto seus aliados históricos, comunistas, tinham assinado.

Ali a esquerda apresentou 2 táticas: assinar ou não assinar. Para os petistas não assinar seria uma grande marcação de posição contra o parlamento e o governo Sarney, pois sua estratégia seria lançar candidato a presidência no ano seguinte e toda forma de desgastar o governo era bem vinda. Para o PCB e PC do B, apesar de não concordarem com o regime capitalista eleitoral burguês, viam ali uma grande forma de restituir a democracia abalada pelo golpe de 1964 e assim lutar pela construção partidária e conscientização das pessoas sem risco de serem assassinados ou perseguidos, mesmo sabendo (ambos) que nas eleições do ano seguinte iriam se contrapor ao candidato que representasse o então governo federal.

O tempo passou e hoje, o próprio PT (segundo entrevista de Lula na Carta Capital: <http://www.cartacapital.com.br/politica/projeto-de-constituicao-do-pt-tornaria-o-pais-ingovernavel-diz-lula-8454.html>) se arrepende da tática, pois agora, que a democracia foi abalada, vemos o quanto aquele documento era avançado, tanto é que todos os democratas estão fazendo de tudo para não perder os direitos adquiridos ali.

Hoje, novamente, vemos um período de táticas e estratégias diferentes para a Câmara Federal, de um lado a marcação de posição com uma candidatura sem chances reais, mas que unifica a maior parte dos partidos de centro esquerda e oposição ao governo Temer. De outro, alguns com tendência a apoiar outro campo tendo em vista o funcionamento do parlamento.

Temos claras 2 táticas para uma mesma estratégia por parte da esquerda. A primeira ir para combate e pagar o preço pela sua provável derrota: isolamento político, mas respeito e carinho de suas bases. A segunda tática é de um apoio complicado a um candidato liberal, mas que tem cumprido os acordos com todos os partidos, ou seja, garantindo que a Câmara dos Deputados não se torne o circo que Eduardo Cunha transformou no tempo que ali esteve a frente. No meio disso, a candidatura do chamado “centrão” capitaneada por Cunha de dentro da prisão para voltar aos comandos da casa.

Antes de qualquer coisa é preciso se pensar que o ex-vice-presidente tem maioria para aprovar o que quiser inclusive as tão temidas reformas da previdência e trabalhista. Será que a melhor saída seria ir para o combate aberto contra o governo golpista e ser isolado falando só pra si mesmo e para os seus ou buscar o diálogo dentro do parlamento buscando as contradições da frágil base de apoio a Temer e desta forma tentar diminuir o impacto destas reformas todas garantindo ainda que o candidato de Eduardo Cunha não vença o pleito?

Só o tempo dirá qual a melhor saída, mas a história recente nos mostra que uma estratégia bem definida exige táticas ousadas. Em momentos decisivos do xadrez político como este que vivemos, sempre me lembro de uma frase que vi escrita num muro, há muito tempo atrás: “quem tem fome tem pressa”. Os mais de 10 milhões de desempregados também.

Até a próxima!

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