Faça o que eu mando, mas não faça o que eu faço

É justo e necessário o aumento dos professores, mas não podemos e não devemos ser instrumento da guerra ideológica de Bolsonaro.

Bolsonaro faz demagogia com salário dos professores e professoras l Foto: Alan Santos/PR

Sou professor concursado do ensino fundamental no Estado de Pernambuco desde 2005, com muita honra. Recebi a notícia do aumento de 33,24% no piso nacional dos professores proposto pelo Presidente Bolsonaro e pelo Ministro da Educação Milton Ribeiro.

Acredito que nós, professores e professoras, merecemos muito mais que isso, temos acumulado perdas durante anos, em particular nesses últimos de pandemia e de governo Bolsonaro. Também creio que é possível sim em alguns estados arcar com esse aumento, o Maranhão é exemplo disso, lá o governador Flávio Dino opera aumentos até maiores do que esse.

É verdade que os estados precisam rediscutir suas prioridades orçamentárias, investir mais e melhor em educação, é inadmissível sobras do Fundeb e similares em tempos tão difíceis. É algo que os sindicatos e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE perseguem corretamente, valorizar mais e melhor a educação é fundamental e determinante para o futuro do Brasil.

Mas não dá para não expressar a indignação de tal medida do governo federal como algo que tem sim fundo eleitoreiro. O governo federal que aprova isso é o mesmo que operou recentemente cortes em áreas como saúde, saneamento, ciência e tecnologia e, pasmem (!), educação no orçamento sancionado por Bolsonaro nesse ano.

O governo federal opera mais um capítulo de sua guerra político-ideológica, a educação básica no Brasil é de responsabilidade exclusiva dos estados e municípios, o recálculo do orçamento público pode e vai impactar a educação em outras frentes se o governo federal não aportar recursos que garantam a efetiva aplicabilidade de tal medida.

O resto é puro jogo para plateia. Há duas medidas urgentes aqui: o governo federal precisa alocar mais recursos para o Fundeb, isso é o oposto do que foi feito por Bolsonaro no orçamento de 2022. A outra é que governadores e prefeitos precisam sim rediscutir suas prioridades orçamentárias, investir mais em educação e ajudar a formação de um futuro melhor para nós, professores.

É justo e necessário o aumento dos professores, mas não podemos e não devemos ser instrumento da guerra ideológica de Bolsonaro. Precisamos lutar para que, além de aprovar o índice, o governo federal arregace as mangas e ajude os estados e municípios a honrar o que foi aprovado, o resto é pura pirotecnia e uma clara tentativa de se apropriar de uma pauta que nunca foi do atual presidente, um inimigo confesso da educação pública, gratuita e de qualidade.

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