Falando em mulheres

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 Eu quero falar de mulheres. Mulheres comuns, corriqueiras.
Mulheres sem retoques no retrato..
Quero falar de mulheres que carregam seus filhos prá creche, prá casa da mãe, vizinho, reunião. Prá tudo. E das que acharam melhor não ter filhos, e adotaram o mundo.
Mulheres que sempre pagaram seus absorventes e detestam suas cólicas.
Quero falar de mulheres que trabalham muito mais e ganham menos.
Das que apanham por medo de perder seus afetos, e das que resolveram não apanhar.
E perderam seus afetos.
Vou falar de mulheres brancas, negras, índias, velhas, novas. Das negras que não querem ter alma branca, das mestras que ensinam ao contrário do que aprenderam, das que adoram o que fazem e das que fazem o que fazem porque precisam viver.
Mulheres que batem cartão todo dia, prá cobrir o maldito cheque, que de especial não tem nada. Mas que dão jeito de pagar, elas mesmas, suas contas.
Das que são bonitas, e das que são belas sem serem bonitas.
E não dispensam um creminho básico, as vezes de cara lavada e chinelinho, outras vezes arrasando no modelito.
Quero falar de mulheres atrevidas, que quando não vão trabalhar, não dizem que estavam doentes. Dizem que encheram a cara e estavam de ressaca.
E também daquelas que carregam camisinhas na bolsa para alguma emergência, que de ferro ninguém é. Ao menos, elas não.
Quero falar das mulheres campesinas que não tem medo de frio, de estrada, polícia, e que arrancam sem dó as pragas como eucalipto, porque com esta morte, a dos eucaliptos, elas dignificam a vida do nosso povo.
Quero falar das mulheres que conhecem seu lugar, que se põem no seu lugar.
Que é na frente da luta, puxando ou empurrando a luta, tanto faz.
Disse-me, uma vez, uma destas mulheres maravilhosas, que frágil é o preconceito de quem nos entende ou nos quer frágeis. E que só somos frágeis enquanto não entendemos o nosso papel, o de mulheres plenas, que nasceram para, ou junto com os homens ou sem eles, para uma vida nada fácil, mas com todas as possibilidades de felicidade.

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