Filho não é só da mãe!

Ser pai pode ser reputado a um acidente na vida de um homem, mas a maternidade é, culturalmente, um compromisso para sempre.

Emocionante a performance do “Pais por Justiça no Brasil”, no último dia dos Pais, no Rio de Janeiro, com 365 bonecos de plástico, de olhos e bocas vendadas, vestidos de preto, representando a “inconformidade de muitos pais obrigados a recorrer à Justiça para uma simples visita no final de semana”. Explicitavam que “o número simboliza o total de dias por ano em que uma criança deve ter pai e mãe, e a venda indica a manipulação que tais crianças sofrem.” “Pais por Justiça no Brasil” foi inspirado na ONG inglesa “Fathers 4 Justice”/ Fathers For Justice (Pais por Justiça) e tem como lema: “Pai, não desista de mim”.


 


 


É o segundo artigo meu chamado “Filho não é só da mãe!”, slogan “cunhado pelo Conselho Nacional dos Direitos da Mulher na época da constituinte para expor as razões pelas quais a função social da maternidade e a licença-maternidade de 120 dias deveriam ser reconhecidas”. Relatei que uma amiga achava que seus filhos ficariam melhor com o pai. Ela queria um tempo. Como explicar que mãe também pode e tem o direito de “pedir um tempo aos filhos?” ( O TEMPO, 13.11.2002).


 


 


Fui procurada por ela para que articulássemos “um discurso convincente sobre porque deixara as crianças com o pai, mesmo contra a vontade dele. Não queria ser taxada de mãe desnaturada, já que culturalmente o aceitável é que os filhos fiquem com a mãe. E que a mãe se descabele para ficar com os filhos. Não se espera outra coisa de uma mãe”.


 


 


Até o juiz olhou atravessado para minha amiga. O motivo? Em particular para homens, ter de criar filhos porque “a mãe não quis ficar com eles” é uma tragédia e “é contra a natureza.” Não se vê como o fim do mundo o pai sumir, ou não querer assumir a paternidade, depois que se separa da mãe dos filhos dele. Aliás, é o usual. Minha amiga está casada com um juiz. O mesmo que homologou a separação dela e ficou atordoado quando ela disse que as crianças ficariam melhor com o pai”.


 


“Pais por Justiça no Brasil” terá a minha solidariedade, desde que parta do lastro de que não há bandidas-megeras e nem mocinhos- santos-do-pau-oco nesse imbróglio. Apenas pessoas ressentidas – em meio a mães possessivas, às vezes chantagistas, e pais irresponsáveis, na maioria das vezes chantagistas – e crianças que sofrem. De modo que as generalizações sobre o tema são, em sua maioria, equivocadas e perigosas.


 


Para Nilson Falcão, designer gráfico e um dos fundadores do movimento, pai de um menino de 5 anos que, por decisão da Justiça, só pode vê-lo em visitas monitoradas, “Não queremos ser pais de final de semana, nem ver nossos filhos com hora marcada”; e “Queremos a convivência compartilhada. Somos impedidos de conviver com nossos filhos por uma série de medidas que as mães assumem”.


 


É lamentável que Nilson Falcão apresente o movimento de modo machista, antigo e com apenas uma das versões. Nem é ético. Meus pêsames! É elementar, meu caro Nilson: ser pai pode ser reputado a um acidente na vida de um homem, mas a maternidade é, culturalmente, um compromisso para sempre. Jamais teremos consenso sobre culpados, mortos e feridos, porém urge ser tolerante para com as diferenças, já que as verdades são muitas e as atenuantes e agravantes, idem.


 


Todavia, Nilson, receba meu apoio na luta pela guarda compartilhada: eqüidade de convivência e responsabilidades entre pai e mãe. Não sendo o filho só da mãe, tem o direito de gozar da maternidade e da paternidade, igualmente. Subtrair qualquer delas é lesar direitos. A minha saudação efusiva ao “Pais por Justiça no Brasil” é pelo novo que ele pode vir a ser: homens reivindicando o exercício da paternagem como um direito de sua prole e um direito deles a paraisar no padecimento da paternidade,  com ônus e bônus.

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