A frente ampla diante da nação dividida

O fato que desenha o cenário desses últimos momentos de campanha até o dia 30, é a divisão da nação quase que meio a meio

A menos de duas semanas do segundo turno, pesquisas eleitorais convergem — mesmo ressalvando diferenças metodológicas entre elas — no sentido de uma vitória de um dos candidatos (provavelmente Lula) por pequena margem.

Talvez números semelhantes à vitória de Dilma Rousseff sobre Aécio Neves, que se deu por cerca de 3 milhões e quinhentos mil votos.

E daqui até o dia 30, a temperatura da disputa tende a esquentar mais ainda do que já está.

O discurso se radicaliza em ambas as campanhas. Acusações mútuas se sobrepõem à apresentação de propostas concretas para livrar o país da crise.

Mesmo da parte da campanha de Lula, ainda que no discurso do ex-presidente e nas peças publicitárias veiculadas na TV e nos meios digitais haja espaço para a defesa do legado dos seus governos passados e de alternativas a alguns dos problemas mais sentidos pela população.

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Nas hostes ensandecidas e radicalizadas de Bolsonaro, nenhum constrangimento. O rebaixamento do debate e a profusão de fake news é da essência do seu projeto político.

No âmbito da amplíssima frente popular e democrática reunida em torno de Lula, se procura valorizar o discurso propositivo e, ao mesmo tempo, registra-se o debate quanto a questões essenciais ainda não explicitadas, como a política monetária e cambial e o financiamento da retomada do crescimento econômico com base em grandes investimentos estatais em infraestrutura.

O fato, entretanto, que desenha o cenário desses últimos momentos de campanha até o dia 30, é a divisão da nação quase que meio a meio.

Uma divisão que não se superará com a proclamação dos resultados do pleito, seguirá adiante como subproduto de um cenário internacional e brasileiro ainda muito adverso às forças progressistas.

A feição das maiorias parlamentares no Senado e na Câmara, recém eleitas, e mesmo dos governadores já vitoriosos em primeiro turno, expressa o peso do conservadorismo e ressalta a dimensão da luta democrática em terreno minado.

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Donde se deduz que, na melhor hipótese, que é a vitória de Lula, o novo governo terá de enfrentar enormes desafios — seja pela natureza dos problemas estruturais e imediatos acumulados, seja pela complexa convivência com um parlamento hostil e mesmo com a disputa de rumos no interior da própria coalizão governista.

No momento pós-eleição, período de transição e montagem do novo governo, o exercício da amplitude e da flexibilidade, em conexão com a firmeza de propósitos, terá que se elevar mais ainda para assegurar a governabilidade.

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