Geraldo Alckmin: ruim para São Paulo, despreparado para o Brasil

Geraldo Alckmin deixa o governo de São Paulo para candidatar-se à Presidência da República com o discurso de que levará seus feitos à frente do estado para todo o país. Definitivamente, o Brasil merece melhor destino.

O PSDB dirige o estado desde 1995, há quase 24 anos ininterruptos. Neste período, Geraldo Alckmin governou por 4 vezes, 14 anos, sendo o político que mais tempo ocupou o executivo estadual no período republicano.

Aqui fica uma primeira constatação: nos anos de oposição aos governos Lula e Dilma, o PSDB sempre criticou a “eternização” de um grupo político no poder e os métodos supostamente vis para a obtenção de apoio para a manutenção do poder. Pois bem, passado um quarto de século, constata-se que não há no Brasil projeto de “eternização” no poder semelhante ao comandado pelo tucanato paulista, inclusive com o aparelhamento da máquina pública e utilização do poder político e econômico para fins eleitorais.

Mas se sobrou tempo, qual é mesmo o legado deixado para a população nessas mais de duas décadas? Vejamos.

Cada vez mais sucateada, a educação pública paulista passa longe de estar à altura do estado mais rico da Federação. No último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), São Paulo não atingiu as metas estabelecidas para o aprendizado no ensino médio, obteve nota de 3.9, quando o mínimo esperado era 4.2. O governo trata mal os professores da rede estadual e apenas recentemente passou a pagar o piso nacional da categoria, remunerando menos que estados como Maranhão, Acre, Rio de Janeiro. Segundo o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo (Apeoesp), contando o aumento de 2018, o salário-base dos docentes passará a ser de R$ 2.459,71 (Educação Básica I) e de R$ 2.585,00 (Educação Básica II) – o piso nacional em 2018 é de R$2.455.

O enfraquecimento do estado e de sua capacidade de indução fica escancarado na incrível lentidão com que se expande a malha metroferroviária. A Cidade do México iniciou a operação do transporte de trilho na década de 70 – mais ou menos no mesmo período que São Paulo -, mas já conta com mais de 200 quilômetros de vias, enquanto aqui, se novos atrasos não ocorrerem, só chegaremos aos 100 quilômetros de malha (somados Metrô e CPTM) até o final de 2018. Parece piada, mas a ligação sobre trilhos ao aeroporto de Guarulhos, inicialmente prevista para 2005, depois prometida para funcionar em 2014, está atrasada no mínimo há uma Copa do Mundo, pois só começará a operar agora em 2018. Isso sem falarmos das fartas denúncias de corrupção envolvendo dirigentes tucanos e as empresas prestadoras em contratos de obras e reformas de trens.

Entre 2014 e 2016, portanto sob o comando de Alckmin, São Paulo atravessou a mais grave crise hídrica de sua história. Ao contrário do que diz a propaganda do governo, foi a má gestão e falta de planejamento que ajudou a agravar os efeitos da seca e obrigou milhões de famílias das regiões metropolitanas de SP e Campinas a conviver com o racionamento diário de água.

Recentemente, a população sentiu mais uma vez os efeitos nocivos da política irresponsável de corte de gastos, dessa vez na saúde pública. Em meio ao surto de casos de febre amarela, foi divulgado que o orçamento destinado a combater doenças transmitidas por vetores, em 2017, foi 19% menor que o do ano anterior.

Drama permanente das grandes cidades, a crise na segurança pública teve como símbolo maior no longo mandarinato do PSDB paulista a bárbara Chacina de Osasco. Mas, quando olhamos os números da violência policial, a tragédia não causa surpresa: em 2016, foram 266 mortes causadas por policiais fora do expediente, 163 delas só na capital. O “Atlas da Violência” (IPEA/FBSP) registrou 5.427 homicídios no estado, cujas vítimas são principalmente jovens de 15 a 29 anos. Por outro lado, os aviltantes salários pagos aos policiais, a falta de preparo e de investimento suficientes na segurança pública contrastam com o avanço dos tentáculos do crime organizado, imiscuindo-se cada vez mais nas diversas esferas da sociedade.

Há tempos a economia tem dado sinais de estagnação, diminuindo ano a ano sua participação no PIB nacional e perdido protagonismo, situação que só não é mais grave graças ao crescente desempenho do agronegócio, que já responde por mais de 13% de todo o produto do estado (CEPEA-Esalq/USP). Parte das dificuldades, é certo, dizem respeito ao alarmante processo de desindustrialização verificado em todo o país, mas também porque o governo do estado – por motivos de ordem política – optou por se colocar em contradição aos principais programas federais realizados no período de prosperidade verificado no país entre a metade dos anos 2000 até 2014.

Por fim, o meio consagrado pelo PSDB para enfrentar os dilemas da administração pública – seja aqui ou nos governos de FHC no plano nacional – sempre foi terceirizar à iniciativa privada, através de privatizações, as responsabilidades do poder público. Acostumou-se a abrir mão da obrigação de planejar o longo prazo, induzir o crescimento econômico de acordo com as vocações locais, desobstruir os entraves ao desenvolvimento. Quem paga quando o Estado se enfraquece é a população.

O fato é que o prolongado ciclo de governos do PSDB à frente do estado resulta hoje em fadiga de material e reclama a necessidade de mudanças na condução política para o próximo período.

Geraldo Alckmin legará a seu sucessor um estado com grandes e variados problemas, tendo sido o principal condutor das políticas aqui implantadas. Não foi bom para São Paulo, não está preparado para o Brasil. Aliás, o Brasil merece muito mais.

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