Imperdoável

A vida em “liberdade” é outro enorme desafio para que Ruth consiga atingir seu intento desesperado, o de encontrar a irmã, sempre sofrendo perseguição, o ódio dos filhos do delegado e persistindo com toda sua coragem e obstinação a seu intento

Filme "Imperdoável" I Foto: Divulgação/Netflix

Carpintaria, uma profissão que cria coisas. A profissão aprendida por Ruth Slater (Sandra Bullock), que sai da prisão onde esteve por 20 anos, acusada de homicídio contra um delegado de polícia da cidade portuária de Seattle (estado de Washington, oeste dos EUA), recebe a condicional de soltura e é controlada permanentemente pelo agente de acompanhamento.

O filme “Imperdoável” dirigido por Nora Fingscheidt que estreou na Netflix, trata do drama envolto em vingança, perda e preconceito, que circunda a protagonista central ex-presidiária. Como milhões de reclusos após sua liberdade, vive a angústia de um regime de exclusão, desde sua busca pela reinserção no mundo do trabalho, sofrendo o estigma social, à segregação e muitas vezes um apartheid. Assim a película nos envolve na torcida para que a atriz com admirável atuação, possa encontrar o que sonha e luta.

Ela tem uma obsessão e mira e luta incansavelmente por reencontrar sua irmã mais nova. Órfãs depois da morte no parto da mãe da filha mais nova e do suicídio por desgosto do pai, passam a morar sós num pequeno sítio. São ameaçadas de despejo pela polícia e numa dessas ações o delegado acaba morto com um tiro quando invade a casa. Ruth é presa, sob a dura acusação de matar um policial, sofre o estigma dentro da corporação para toda a vida. Estigma contra ela lançado por policiais, parentes e amigos do oficial morto, que entendem injusta a libertação por condicional. A irmã Kathryn é encaminhada a um abrigo para crianças abandonadas sendo adotada.

Em regime condicional, que no Brasil também é conhecido como liberdade condicional ou livramento condicional, ocorre quando há a liberdade antecipada, concedida mediante certas condições e conferida ao condenado que já cumpriu uma parte da pena imposta, a personagem central acaba sendo encaminhada a um equipamento para ex-presidiarias, outro passo de resistência para manter-se nesse abrigo diante das contradições e ameaças das outras ex-presas e da obrigação de manter comportamento exigido pelo policial. Assim a vida em “liberdade” é outro enorme desafio para que Ruth consiga atingir seu intento desesperado, o de encontrar a irmã, sempre sofrendo perseguição, o ódio dos filhos do delegado e persistindo com toda sua coragem e obstinação a seu intento.

Filme “Imperdoável” I Foto: Reprodução

Com sua persistência, acaba encontrando um advogado que casualmente comprou a casa onde ela morava com a irmã no meio rural, que compreende sua angústia, não antes de sofrer a negação para seu pedido de encontrar a irmã.

Esse tema complexo, enfrenta no Brasil o mesmo dilema do preconceito contra as pessoas privadas de liberdade. Segundo o sistema de informações estatísticas do Departamento Penitenciário Nacional – Depen, nosso país continua ocupando o 3º lugar no ranking de países com maior número de pessoas presas no mundo. Os Estados Unidos é o país campeão no ranking, com 2,1 milhões de presos (as). Em 2020 encontravam-se em contenção 773.151 presos (as). As mulheres eram 37,2 mil. Os cárceres foram criados para prender os homens.

As condições nas prisões são indignas, sendo cenário de graves violações de direitos, atingindo de forma mais intensa, jovens negros, provocando dificuldades de promover a reintegração social da pessoa presa.

No Brasil a liberdade condicional é indicada após o juiz estabelecer condições para cumprimento do restante da pena tendo que atender a algumas condições. No filme Ruth é constantemente vigiada e controlada, uma carga que se acumulam com as diversas opressões em uma sociedade patriarcal, machista e racista.

O final do filme é redentora de todo o sofrimento de Ruth, marcado inicialmente pelo reencontro entre Liz (Viola Davis) e Ruth, e ao final uma cena surpreendente, ficando a vontade de assistir mais….

“Imperdoável” sensibiliza porque nos sintonizamos com o drama de Ruth e sofremos com todas as dificuldades com que se defronta, como mulher estigmatizada, não compreendida, perseguida, ameaçada de morte. Ao mesmo tempo “inesquecível” porque é muito raro ver a afável Sandra Bullock em mais um papel brilhante, quase nunca esboçando os sorrisos de personagens anteriores.

Imperdoável” – “Unforgivable
País: EUA
Ano: 2021
Duração: 114 minutos
Direção: Nora Fingscheidt


Referências:

http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/4375/1/td_2095.pdf

https://g1.globo.com/monitor-da-violencia/noticia/2021/05/17/populacao-carceraria-diminui-mas-brasil-ainda-registra-superlotacao-nos-presidios-em-meio-a-pandemia.ghtml

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