Indústria da guerra e o ataque aos povos

O novo relatório do Instituto Internacional de Pesquisa sobre a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês) organiza uma lista dos 100 maiores produtores de armas e prestadores de serviços militares em todo o mundo. Em 2013, suas vendas totalizaram US$ 402 bilhões (R$ 1,064 trilhões). A soma de 2013 é 45,5% maior do que aquela dedicada ao setor militar em 2002, em termos reais.

A crise estrutural que já completa sete anos é um dos principais motivos para uma leve redução dos gastos com armas e serviços militares, o que pôde ser visto nas discussões entre os líderes integrantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em sua última cúpula, em setembro, no País de Gales. Na Europa, movimentos sociais nos países mais afetados por uma agressiva política de arrocho protestam contra o investimento bélico – com países dedicando quase 2% do PIB ao setor. Ainda assim, após uma bronca do governo estadunidense e do ex-secretário da Otan, Anders Fogh Rasmussen, os membros comprometeram-se a dedicar mais recursos para torná-la ainda “mais robusta”, pronta para intervir “rapidamente” – como se tratasse de um conceito de eficiência – em situações de “crise”. A ideia é assim de generalizada e vaga, deliberadamente.

Ainda segundo o Sipri, no relatório divulgado em dezembro, mais de dois terços das companhias em sua lista estão sedeadas na América do Norte ou na Europa Ocidental. Oito grandes empresas estadunidenses estão entre as 10 primeiras. Embora o relatório aponte para o aumento das vendas de empresas russas do setor, em 2012, a primeira companhia dessa nacionalidade a aparecer na lista estava na 14ª posição; as estadunidenses, francesas e italianas estavam nas primeiras. Tentar apresentar uma situação de igual responsabilidade pelo armamento – apesar do necessário compromisso com o desarmamento e a desmilitarização global – não é necessariamente objetivo. Movimentos sociais de todo o mundo têm reivindicado o desarmamento nuclear e de equipamentos convencionais, além da eliminação dos dispositivos que violam o direito internacional humanitário, com objetivo de causar ferimentos indiscriminadamente (como bombas de fragmentação e armas químicas).

Continua urgente a exposição da ligação direta entre a elite política, o setor financeiro e a indústria armamentista, o complexo militar-industrial, com grandes esquemas representados inclusive nas bolsas de valores entre as corporações, os grandes bancos e os produtores de armas ou equipamentos militares. Na última ofensiva de Israel contra a Faixa de Gaza palestina, por exemplo, em julho e agosto, a empresa israelense Elbit, fabricante de veículos não-tripulados (drones) e outros equipamentos bélicos teve suas ações na bolsa valorizadas em 6%. Em Israel também é simbiótica a relação entre oficiais de alta patente, a diretoria das maiores empresas bélicas, os grupos políticos e o mercado. Não são raros os depoimentos sobre as frequentes ofensivas contra os palestinos servirem de vitrine. Enquanto discutimos o direito internacional e o fim da impunidade da liderança israelense por seus crimes constantes, seu negócio da guerra continua aquecido.

Além disso, na Espanha, membro da Otan, por exemplo, com taxas recordes de desemprego e empobrecimento generalizado, 16,5 bilhões de euros (R$ 53,7 milhões), ou seja, 4% do orçamento geral do Estado, foram dedicados ao setor militar em 2014, segundo o Centro de Estudos para a Paz J.M. Delàs, catalão. Enquanto seus cidadãos continuam saindo às ruas para protestar contra o ataque constante aos seus direitos conquistados à base de muita luta, a máquina de guerra continua funcionando, atacando quem a alimenta involuntariamente e quem é selecionado como o próximo alvo.

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