Leninismo contemporâneo e processos revolucionários

Parte 3
O problema da solução estratégica da revolução socialista atual renova-se – sempre! – na capacidade do partido comunista e seus aliados resolverem a Equação Nacional. Esse é, provavelmente, o principal ensinamento do leninismo contemporâneo, desde logo aberto ao movimento real das lutas de classes em sua historicidade; e “enganchado” nas contradições insolúveis do capitalismo global.

No mesmo passo, não se deve olvidar jamais: foram guerras mundiais e convulsões geopolíticas que estiveram no rastro (dilacerante e) germinador das grandes revoluções russa, chinesa e vietnamita; distintamente da genuína revolução cubana, onde os guerrilheiros de Sierra Maestra substituíram a hegemonia do partido comunista. No caso cubano, todas as fórmulas dogmáticas foram para o espaço sideral.

Assim, fenômenos bem mais profundos e vastos, eivados de antagonismos e contradições; episódios que levaram as últimas consequências o sofrimento, a brutalidade e as privações de todo o tipo sobre as massas, circundaram a deflagração de condições às transformações revolucionárias, num determinado tempo histórico de consciência social das massas e quadro sistêmico de forças. Ademais, em meio à 1ª Guerra Mundial, Outubro multiplicou ânimos, motivou organizar os combates de classe mundo afora, de tal modo que a 2ª Guerra Mundial termina por originar o chamado “campo socialista”.

A propósito, sabemos que as ideias de Ho Chi Minh estavam iluminadas pelas orientações de Lênin acerca da das lutas anticoloniais e anti-imperialistas de libertação, de suas alianças e bases revolucionárias. [1] Simultaneamente, isso o inspirava a ter claras as tarefas nacionais de sua revolução, em suas diversas fases:

“Todos os seus militantes [do partido] devem se esforçar para estudar o marxismo-leninismo, para fortalecer seu espírito de classe proletária e para bem entender as leis de movimento da revolução vietnamita” (Ho Chi Minh, 1960). [2]

Leis de movimento da revolução. Do relatado por M. Bernal [3], impressiona igualmente a defesa que Mao Zedong fez da construção de um exército revolucionário de massas – nele cabiam “bandidos, soldados, mendigos e prostitutas” – juntamente a uma “classe proletária de vanguarda” conformada por “camponeses que perderam a terra e operários do artesanato” desempregados.

Muito mais: num momento, Mao foi militante no Kouamitang de Chan Kai Chek, organização democrático-burguesa então apoiada pela 3ª Internacional Comunista [4]; a seguir, com sua visão “rigorosamente leninista”, se recusou a levar adiante orientações (em geral desastrosas e trágicas da 3ª I.C. durante os anos 1921-1930), o que foi sucedido pela organização vitoriosa da Longa Marcha (1934-35), estratégia elaborada pelo eminente comunista chinês. Após massacrar comunistas (especialmente em 1927), o Kouamitang somente foi destroçado pela revolução de 1949.

Em tempo: como no Vietnam de Ho e na China de Mao, o leninismo – Lênin, escreveu Gramsci – foi capaz de “compreender e interpretar as necessidades e aspirações de uma numerosíssima classe camponesa” e de conquistar a maioria do proletariado dispersos num imenso país. [5]

O Programa dos comunistas do Brasil

Vivemos na época do domínio esmagador do capital financeiro e da grande finança provedora da indústria bélica; estreitam-se ocorrências e prolongam-se a duração de crises do capitalismo. A transição no sistema de relações internacionais dá novos passos. Assim como uma fúria neocolonialista que exala o imperialismo norte-americano sobre regiões estratégicas do globo. D. Losurdo fala em uma espécie de versão pós-moderna dos campos de concentração, em plena era de globalização.

O Leninismo da nossa época é continuidade e ruptura com a experiência das grandes revoluções proletárias e anti-imperialistas. Por óbvio, não pode ser igual à história vigente no mundo bipolar: esse acabou, enquanto estado e mercado passaram a ter noviça reconfiguração estratégica na afirmação do socialismo. Avulta o desenvolvimento econômico-social com questão de soberania-sobrevivência nacional.

A construção teórica para a estratégia ao socialismo no Brasil se encontra no Programa Socialista, aprovado no 12º Congresso do PCdoB, de clara lavra marxista-leninista – desnecessário ficar repetindo. Conforme a autêntica tradição revolucionária, o PCdoB contemporâneo esforça-se na profunda compreensão do quadro de forças internacionais, das mudanças operadas no capitalismo “financeirizado” e seu homônimo, o imperialismo agressivo e crescentemente neocolonial; nem de longe abre mão do Socialismo. Num teatro de operações onde ainda prevalece a defensiva estratégica.

No Programa, a abordagem do caminho alcança elevada elaboração, à medida que enfrenta diretamente os problemas complexos à transição para um novo ciclo civilizacional no país – as reformas estruturais para um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento. Desde já, de modo algum se confundindo com proclamações principistas, repletas de invencionices idealistas, ou típicas da demente ideologia neotrotskista. Fixa os inimigos imediatos: a oligarquia financeira e seus aliados políticos daqui e de alhures. Este o núcleo duro que sustenta a ideologia do neoliberalismo, que precisa ainda ser derrotado no Brasil.

As Teses do nosso 13º Congresso, no essencial, estão alinhadas e municiam o caminho do nosso Programa.

Notas

[1] Escreveu Ho: “Sobre a burguesia nacional, o Partido deve empregar muita habilidade e flexibilidade. Deve desprender todos os esforços para atraí-la à Frente e retê-la ali, estimulá-la a atuar se é possível e isolá-la politicamente se é necessário”. Ver: “Sobre a linha e a opção e o Partido na época da Frente Democrática”. In: Ho Chi Minh, vida y Obra, Editorial De Gioi, p.84.

[2] Ver: Ho Chi Minh, de J.M. Lima Neto, Publisher, 2012, p.194.

[3] Ver: “Mao e a revolução chinesa”, de Martin Bernal, in: “História do Marxismo – O marxismo na época da Terceira Internacional: o novo capitalismo, o imperialismo, o terceiro mundo”, Hobsbawm, E. (org.), v. 8, Paz e Terra, p.391, 2ª edição.

[4] Ver: “A China e o marxismo: Li Dazhao, Mao e Deng”, de Armen Mamigoniam, in: Marxismo e oriente; quando as periferias tornam-se centros, Del Royo, M. (org.), Ícone editora, 208, pp.179-182.

[5] Ver: “Lenin, líder revolucionário”, de A. Gramsci, in: O leitor de Gramsci. Escritos escolhidos 1916-1935, Coutinho, C.N. (org.), p.95

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