Lula na Europa e a plataforma de unidade

Temos sim potencialidades para ocupar lugar de destaque numa cena mundial em transição para um novo desenho geopolítico marcado pela ascensão de novos polos de influência

Lula e Macron (Foto: Ricardo Stuckert)

O périplo de Lula pela Europa repercute amplamente. A recepção calorosa no Parlamento Europeu e a acolhida, com honras de chefe de estado, que lhe conferiu o presidente da França, Emmanuel Macron, acentua o contraste com as viagens do presidente Jair Bolsonaro, condenado a um constrangedor isolamento.

Mas para além, digamos, das implicações políticas imediatas, cabe acentuar a absoluta necessidade de se destacar numa pretendida plataforma que possa unir amplas e diferenciadas forças políticas no evento eleitoral próximo, a retomada da política externa soberana e propositiva.

Evidentes são as limitações impostas ao Brasil, sobretudo pelos efeitos de políticas macroeconômicas que não rompem o cordão umbilical com os ditames neoliberais. Mesmo no período exitoso de Lula e Dilma (no primeiro governo).

Temos sim potencialidades para ocupar lugar de destaque numa cena mundial em transição para um novo desenho geopolítico marcado pela ascensão de novos polos de influência.

Urge uma linha de desenvolvimento nacional calcada na preservação de nossa soberania e na hábil exploração de contradições entre forças de influência que se digladiam, com repercussões na troca de mercadorias e de ativos científicos e tecnológicos.

Não é aceitável que tenhamos alcançado, em décadas recentes, o patamar de oitava economia do mundo e nos mantenhamos essencialmente exportadores de produtos primários e commodities e quase nada de manufaturados.

Em anotações em debate no PCdoB a propósito do tema, se tem assinalado que, sem alinhamento automático com os EUA ou qualquer outro interlocutor comercial e diplomático, será possível retomar a política externa independente, diversificando e ampliando o intercâmbio comercial e acordos de cooperação multilateral.

Deve jogar papel saliente a nossa presença nos Brics – hoje reduzida a uma postura quase protocolar e burocrática – e parceria crescentemente vantajosa com a China.

Na esteira dessa postura, o Brasil pode sim retomar o papel saliente que lhe cabe no subcontinente sul-americano e nas relações com os países da América Central e Caribe. .

Em que medida poderemos avançar nessa linha de proposições dependerá da composição de forças que venha a se formar no pleito presidencial. 

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