Manifesto do Medo

Quem não tem medo de alguma coisa?

O medo é uma censura natural, é um sinal que o cérebro manda dizendo que estamos numa zona desconhecida, e de possível perigo.

Não vou ficar falando aqui sobre medo de baratas, de altura, medo do escuro, de passar debaixo de uma escada. Vamos tratar do medo que nos sufoca, que nos impede de vivermos felizes.
Então, do que você tem medo?

Muitas vezes temos medo da verdade. Fingimos que não está acontecendo; fechamos os olhos. Mas a verdade ainda está lá.

Outras vezes, tememos rever nossos conceitos, questionar a nós mesmos, questionar o mundo. É por isso que um poeta em certa feita disse: “Quando a gente muda o mundo muda com a gente.”
Lembre sempre de uma coisa: bom senso é algo que todos acreditam ter; repense você. É comum ter mais medo daquilo que os outros vão pensar de nós, do que daquilo que pensamos sobre nós mesmos. Aliás pensar sobre nós também deve ser um grande medo. Ou melhor: pensar causa medo.

Quem não teme a solidão?

Quem não teme não ser compreendido? Corro esse risco agora, e temo. Quem não teme ficar ou se manter desempregado? Esse temor é índice do salário pago: quanto maior este temor, menor o salário; maior é a exploração. Se o medo pudesse ser negociado, certamente seria um dos produtos mais valorizados na bolsa de valores.

De que, então, você tem medo?

De escolher presidente? Debater política? Ter opinião? Se você não pode decidir, se é a favor ou contra, irão decidir medidas a favor ou contra você quando forem eleitos, sem medo, pois sabem que você tem medo de se manifestar, de se opor; sabem que você tem medo de tudo isso não “adiantar” nada. Então, eles “atrasam” – atrasam o que prometeu prontamente; atrasam seu lado. Sabem que você tem medo de descobrir quem são os políticos honestos e desonestos. E, se pra você é tudo igual, por que eles iriam se esforçar para ser diferentes?
Você tem medo de ter uma religião? Ou se tem uma, teme questioná-la? Tem medo de falar de Deus?

Você tem medo de ser pego com o “beck”? Você tem medo de perder seu antigo vício? Tem medo de engravidar? De assumir sua verdadeira sexualidade? Tem medo de ladrão? Tem medo de polícia?

Você teme seu passado? O futuro? Ou pior: teme seu presente?

Você tem medo de se armar? Tem medo de amar?

Assim como um pássaro que sempre esteve preso numa gaiola, quando solto, tem medo de voar, nós ainda temos medo de lutar para conquistar a própria liberdade.

Tenho medo que você leia e continue aí na inércia, com medo – este medo que te faz parecer tão valente.

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