Marcha golpista no Dia 7 de Setembro: O Brasil na encruzilhada da ignorância e do ódio

Nada mais simbolicamente bizarro do que isso: um ex-militar, político de carreira e membro do baixo-clero, que foi vendido como antissistema e como o novo, envolvido com milícias e em casos de “rachadinhas”, dando um novo Grito de Independência, mais falso e mentiroso ainda que o primeiro

Fotomontagem feita com as fotos de: Mauro Pimentel/AFP; Daniel Apoyo/Ponte Jornalismo; Adriano Machado/Reuters;

O Parnamirim é um bairro de classe média e classe alta do Recife. São sete meses que estou morando aqui. E nesse pouco mais de meio ano, vi manifestações anti-bolsonaro, panelaços e gritos de assassino e genocida ecoarem vindo dos edifícios ao redor, sempre que o presidente se pronunciava. Parece que nesse tempo os bolsonaristas da região estavam com vergonha, escondidos.

Em São Paulo, cidade que rendeu muitos votos ao atual presidente da República e casa de grandes jornais que pareciam lavar as mãos na eleição de 2018 ao dizer que era difícil fazer a escolha entre um ex-militar homofóbico declarado, misógino e adorador de torturadores, e um professor conhecido por seu tom brando e reconciliador, e que depois escreveram editoriais apoiando a primeira opção, o comandante da Polícia Militar (PM) Aleksander Lacerda foi afastado pelo governador João Dória, depois que foi às Redes Sociais convocar protestos no Dia 7 de Setembro, contra o STF.

No dia 19 de junho, uma manifestação pacífica aqui no Recife foi massacrada por tropas de choque da PM, em clara insubordinação ao governador de Pernambuco, Paulo Câmara. O resultado foram duas pessoas que nem estavam na manifestação que ficaram gravemente feridas e cegos por balas de borracha. O então comandante à frente da operação, Vanildo Maranhão, além de vários oficiais presentes no dia, foram exonerados do cargo. Ali, reforçou-se uma dúvida: A PM estaria coopatada pelo Bolsonarismo e poderia ser uma força na defesa de um golpe contra a democracia brasileira?

A resposta parece ter vindo de forma clara, agora, com o caso em São Paulo. E não é de hoje. Cid Gomes, ex-governador do Ceará foi baleado por PMs em greve em fevereiro de 2020. Quem não lembra?

A análise de especialistas é de que existe um risco de tentativa de golpe no Dia da Independência do Brasil. Nada mais simbolicamente bizarro do que isso: um ex-militar, político de carreira e membro do baixo-clero, que foi vendido como antissistema e como o novo, envolvido com milícias e em casos de “rachadinhas”, dando um novo Grito de Independência, mais falso e mentiroso ainda que o primeiro. Mas é que os bolsonaristas que restaram estão cada vez mais “radicais”. Não no sentido de recorrer à raiz do problema para resolvê-la, mas no sentido de um fundamentalismo violento e burro, como é todo fundamentalismo.

Foto: Reuters

Em meio a tudo isso, em recente reportagem do site The Intercept Brasil foi exposto quais grupos, ainda em 2013, já começavam a usar o nosso país como laboratório de ações programadas de disseminação de Fake News e teorias da conspiração, em prol do crescimento da extrema direita e desse neofascismo que viria a derrubar Dilma e a beneficiar o agora presidente Jair Bolsonaro. Algo que poderia estar presente, claramente, no livro “Os Engenheiros do Caos”, do italiano Giuliano Da Empoli.

Todo esse trabalho sujo inicial foi feito pelas organizações ultraconservadoras HazteOir e CitizenGo. Nessa excelente investigação, descobriu-se inclusive que mentiras que pautaram a campanha do ex-militar, como a “mamadeira de piroca” e o “kit gay’, já haviam sido difundidas por esses mesmos grupos, anos antes, na Argentina.

Há claramente uma movimentação golpista em curso. De caminhoneiros caricatos e seus chapéus de boiadeiros, passando pelo cantor sertanejo Sérgio Reis, chegando em empresas que estão dispostas a financiar essa marcha golpista, até à insubordinação da PM e o silêncio complacente das Forças Armadas por um lado e claro terrorismo psicológico por outro. Exército, Marinha e Aeronáutica, que são as pedras fundamentais desse governo de ódio, incompetência e genocídio.

Voltando ao Recife, hoje vi bandeiras do Brasil estampadas nas varandas dos prédios vizinhos e no que eu resido agora. Algo que não tinha visto ainda, não nessa quantidade. As toupeiras do ódio, antes com medo e escondidas em suas tocas de ignorância, ódio e burrice extrema, parecem agora estar colocando a cabecinha de novo na superfície. Claramente há uma movimentação de organizações como as expostas pelo The Intercept, chamando para um apoio a um possível golpe, com mais teorias da conspiração difundidas nos mais abissais grupos que se multiplicam como ratos e baratas em esgotos, só que nesse caso, no WhatsApp.

É, senhoras e senhores, os tios e tias do “Zap” estão de volta. Babando como um “miniatura pinscher” raivoso e destilando ódio e burrice como há um tempo não víamos tanto. Clamando pela defesa do presidente e pagando R$ 7 no litro da gasolina. E são um apoio importante, ainda que pequeno, a uma possível tentativa de golpe. E, mais uma vez estamos aqui, sentados, de braços cruzados, vendo o ovo da serpente chocar, num país sem vacina suficiente e sem soro antiofídico que possa salvar todas as instituições. E as toupeiras, burras como sempre, serão as próximas vítimas dessa Hidra do fascismo. O espírito de Carlos Lacerda que o diga.

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