Marie Curie: Radioativa nas ideias e na vida!

Não obstante seus feitos da Ciência, Marie sempre vivenciou o machismo dentro da Academia francesa. Análise pode conter spoiler do filme ‘Radioactive’, que retrata a vida da cientista

Marie Curie jovem

Maria Salomea Skłodowska, depois afrancesada Marie Currie, nasceu em Varsóvia, na Polônia, em 7 de novembro de 1867. Mudou-se para Paris, na França, para realizar seu doutorado, onde conheceu o cientista Pierre, com quem se casou, dali surgindo rica parceria para a ciência.

Maria Salomea Skłodowska, depois afrancesada Marie Curie, nasceu em Varsóvia, na Polônia, em 7 de novembro de 1867. Mudou-se para Paris, na França, para realizar seu doutorado, onde conheceu o cientista Pierre, com quem se casou, dali surgindo rica parceria para a ciência.

Em nossos dias, as mulheres adentram a carreira universitária em grande número. São hoje a maioria nos cursos de mestrado e doutorado, e atingem 40% na área de pesquisa. Na época de Marie, a transição do século 19 para o  20, estudar era dificultado para as mulheres: tratava-se de seguir as imposições sociais do casamento, cuidar da casa, dos filhos para não ficarem mal faladas.

Radioactive, lançado pela Netflix, desperta muita emoção e alegrias, no registro da biografia de uma mulher vibrante e plena de ideias, que às vezes brigava com o altamente capaz marido por suas convicções.

Assume destaque ainda maior sua inteligência e engenhosidade particularmente no Brasil, pela terrível e desprezível posição de negacionistas liderados pelo pior mandatário do pais que já está batizado como genocida.

O filme é dirigido pela escritora, romancista gráfica iraniana Marjane Satrapi, tendo no papel de Marie a ótima atriz Rosamund Pike, e Sam Riley como Pierre Curie. Até a morte acidental de Pierre o filme mostra uma importante parceria entre o casal que lhes rendeu prêmio Nobel de Física, a uma das pouquíssimas estudantes mulheres da Universidade de Paris na época.  Anos depois Marie voltaria a ganhar um Nobel, pela descoberta do elemento químico rádio.  Não obstante seus feitos da Ciência, Marie sempre vivenciou o machismo dentro da Academia francesa.

A atriz Rosamund Pike, no brilhante papel de Marie Curie | Divulgação

Mas foi justamente Pierre, professor e pesquisador da Universidade, quem  acolheu Marie, e a partir das instalações de que dispunha ambos puderam desenvolver seus estudos.

No filme há interpolações sobre os usos, bons e maus, da radioatividade descoberta pelo casal Curie. Marie não se podia dar conta do que viria mais adiante, e ela só pensava nos efeitos benéficos do rádio quando percebeu que algumas pessoas tinham regressão de seus tumores pela proximidade com a substância radioativa.

Em meio à biografia de Marie são intercaladas cenas tétricas de quando o bombardeiro “Enola Gay” despejou a bomba sobre Hiroshima, na 2a. Guerra. Mais adiante, uma simulação de ataque atômico sobre uma cidade-palco montada no deserto de Nevada nos EUA, em 1961. E o enorme acidente na usina de Chernobyl, na antiga URSS em 1986.

Radioactive mostra-nos uma mulher assim como o título: radioativa, persistente, forte, convicta de suas ideias, decidida a provar, no laboratório, nas palestras e aulas que dava, a certeza daquilo em que acreditava. Isso o filme assinala com precisão e também a atriz que interpreta Marie.

No cenário da Paris do século XIX, construções lindas e históricas, a Ciência descobria um fenômeno que seria utilizado tanto para futuras bombas atômicas como em terapias para erradicar câncer. Descobertas trazidas à Humanidade pelo esforço do casal Marie Curie e Pierre Curie.

Marie, no filme, mostra seu imenso carinho pelas duas filhas.  A filha primeira, aliás, perseguiria o trajeto da mãe, e, ao lado do marido também cientista, desenvolveria trabalhos na fabricação artificial de radioatividade, sendo por isso recebedora de outro prêmio Nobel.

A notável cientista, depois da morte de Pierre, enamora-se de um colega da Academia, e, por conta desse relacionamento, é hostilizada por setores da sociedade de Paris, que perante ela demonstraram sentimentos de preconceito, de machismo, de xenofobia e mesmo ódio, que lembram terríveis manifestações da atualidade.

Ao final, há uma cena em que Marie, acamada por causa da anemia aplástica decorrente da longa exposição à radiação, reencontra seu querido Pierre e ambos reafirmam a convicção de que suas descobertas sirvam para o bem da Humanidade.

Mesmo que a história tente apagar memórias das mulheres, como evidencia a estudiosa francesa Michele Perrot no livro: As Mulheres e os Silêncios da História, um silêncio e invisibilização reiterados através dos tempos pelas religiões, pelos sistemas políticos e pelos manuais de comportamento: “aceitar, conformar-se, obedecer, submeter-se e calar-se. Este mesmo silêncio, imposto pela ordem simbólica, não é somente o calar da fala, mas também o da expressão, gestual ou escriturária”, Marie persistiu e persiste na ciência, na vida e na resistência de muitas mulheres.

Fotos da Conferência de Solvay em 1927, com os grandes nomes da física – Única mulher entre cientistas | Foto: reprodução/tumblr spaceplasma

Resenha do filme Radioactive (pode conter spoiler)

Data de lançamentomarço de 2020 (Israel)  e abril de 2021 no Brasil pela Netflix
DiretoraMarjane Satrapi
ProduçãoTim BevanEric FellnerPaul Webster
Baseado emRadioactive: Marie & Pierre Curie: A Tale of Love and Fallout, de Lauren Redniss

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