Na panela testículos

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Tinha um corpo espalhado pela casa. Cortado como se corta bife. Tinha pedaços no quarto, na sala, no banheiro, na panela e no vaso sanitário. Tinha uma faca e um esmeril para amolar a paciência e a perversidade.

Um caminho de sangue na rua testemunhava uma noite que não se sabe como começou. 

A notícia se espalhava na manhã de uma segunda-feira. O almoço era indigesto, parecia que o corpo estava servido à mesa, não era dia para comer carne, se é que devemos comer carne.        

A casa da esquina, onde o corpo foi espalhado, hoje é depósito para o vento, esconderijo de gatos. Suas paredes recebem escrituras do tempo e do momento.  Contam que quando a casa era habitada, um velho pedia água e desaparecia no escuro e que barulhos passeavam pelos cômodos.

A casa continua do mesmo jeito, talvez tenha barulhos e alguém com sede, mas o que assombra de verdade são os pedaços de gente espalhados. Até hoje continuam procurando encontrar aquele corpo por inteiro.

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