Nada além do cercadinho

Celebrava-se a Independência do Brasil, um marco em nosso processo civilizatório. O presidente nada disse sobre isso

Fotomontagem feita com as fotos de: Pedro Ladeira/Folhapress e Reprodução

Sim, foram expressivas as manifestações de apoio a Bolsonaro no último 7 de setembro. Sobretudo em São Paulo.

Há quem avalie que foi menos do que o esperado, tamanho o esforço de mobilização prévia, feita inclusive com farto financiamento de empresários comprometidos com a aventura golpista.

Quanto ao conteúdo, nada além do que o presidente cotidianamente diz no cercadinho armado diante do Palácio Alvorada, onde são montadas claques de desocupados para ouvir suas diatribes.

Este é o ponto.

Mais do que vociferar contra inimigos reais ou imaginários e ameaçar a ordem constitucional, nada.

Celebrava-se a Independência do Brasil, um marco em nosso processo civilizatório.

O presidente nada disse sobre isso.

E sobre o cenário dramático em que a população amarga o desemprego, a carestia, a disparada dos preços dos combustíveis e a incerteza quanto a pandemia, o presidente também nada disse.

Porque não tem o que dizer.

Para ele, o problema central do país se resume ao seu conflito com o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre Moraes, que conduz inquéritos que poderão punir severamente seus filhos e assessores mais próximos e cobrir de lama a própria presidência da República.

A cada dia mais e mais segmentos da sociedade se colocam em posição crítica, quando não frontalmente oposicionista, em relação ao ex-capitão e seu governo.

Se as manifestações que convocou para o 7 de setembro pretendiam demonstrar força, na verdade resultaram num tremendo tiro no próprio pé. Botaram mais lenha na fogueira da crise institucional e contribuíram para aprofundar o isolamento político do presidente.

De quebra, vai ficando evidente a necessidade de interromper o governo — através do impeachment ou de outra alternativa institucional.

Mas isso não depende apenas de uma mudança brusca na correlação de forças no parlamento. Carece ainda da vontade da maioria dos atores políticos que se põem em oposição ao presidente, que parecem preferir enfrentá-lo (enfraquecido) nas urnas.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor