Nada normal

Durante toda a sua gestão, mais tempo o presidente dedica a fomentar crises do que propriamente a administrar

Foto: Isac Nóbrega/PR

Ontem, em debate no ‘Roda de conversa’ (https://bit.ly/3vmGu6G), no YouTube, ao mencionarmos as intermitentes ameaças de Bolsonaro à ordem democrática, o jornalista Osvaldo Bertolino usou a expressão “isso não pode ser considerado normal” para justificar a necessidade de se repelir com veemência declarações e atitudes do presidente.

Considerá-las “naturais” seria arrefecer a resistência democrática.

Lembrei-me do livro “Tortura e torturados no Brasil”, do jornalista Márcio Moreira Alves, produzido no final dos anos 60, em plena exacerbação da repressão policial.

Verdadeiro dossiê das atrocidades cometidas pela ditadura militar até então.

Segundo o autor, a ideia do livro nasceu numa reunião de pauta do Correio da Manhã, em que alguém considerou notícia morna novas prisões e torturas de oponentes do regime.

Deixara de ser novidade.

Mas aquilo não poderia jamais ganhar ares de normalidade!

É o que ocorre agora quando diariamente se tem mais notícias das arbitrariedades e desmandos do presidente da República.

Como ontem, em que ele reuniu parlamentares integrantes das bancadas ditas “da bala” e “da Bíblia” para celebrar o indulto do deputado meliante do PTB do Rio de Janeiro.

Tudo transmitido ao vivo pela emissora de TV estatal, desrespeitando preceitos éticos e legais. 

O fato é que durante toda a sua gestão, marcada por verdadeiro desmonte do Estado e invalidação de políticas públicas essenciais, mais tempo o presidente dedica a fomentar crises do que propriamente a administrar.

É a estratégia do caos.

Interessa a instabilidade das instituições e a miséria geral, tidas como caldo de cultura indispensável à pretendida aventura golpista.

O conflito aberto com o Congresso transmutou-se em aliciamento escandaloso de base parlamentar, alimentada com recursos públicos.

A alternância de atitude — ora agressiva, ora supostamente conciliadora — em relação ao STF, conhece agora a afronta desmedida com a “graça” concedida ao deputado condenado.

Nada normal.

Resistir de modo amplo e decidido é indispensável.

Para que tenhamos eleições legais e limpas, se vença o golpismo nas urnas e se possa superar a crise e reconstruir o que vem sendo destruido cotidianamente.

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