Neoliberalismo x Dilapidação do patrimônio público

No início dos anos 40 Friedrich Hayek escreveu o “Caminho da Servidão”, livro que tornar-se-ia a “bíblia” dos neoliberais dos anos 90, tanto daqueles que o defendiam por convicção ideológica quanto dos “convertidos” por conveniências conjunturais.

Hayek e sua confraria defendiam, em essência, a supressão do estado da vida cotidiana. Isso valia para a economia, para a rede de proteção social, para os direitos trabalhistas e, também, para a gerência de patrimônios, mesmo daqueles que foram construídos exclusivamente com recursos públicos.


 



Enquanto o socialismo florescia era impossível esse anacronismo prosperar. Mas, tão logo o muro de Berlin desabou, o mundo foi inundado por essa anomalia filosófica e econômica, cujo desastre prático está às vistas de todos. O resultado mais “vistoso” dessa política foi a brutal transferência de recursos públicos para a iniciativa privada.


 



Esse culto ao privatismo foi acompanhado de uma intensa campanha publicitária, cujo objetivo era desmoralizar o estado como um todo e o serviço público em particular. Para tanto, recorreram a mentiras, deturpações e maximizações de falhas, reais ou imaginárias, que efetivamente existe no serviço público ou privado, no propósito de criar uma cultura avessa à coisa pública e de exaltação a ação privada, quando a experiência prática tem demonstrado que esse antagonismo é artificial.


 



Num momento de intensa defensiva do movimento popular, onde, a exceção do PCdoB, poucas eram as correntes de pensamento que ousavam contestar abertamente o credo neoliberal, o receituário de Hayek acabou predominando no governo de FHC e de seus aliados da esfera estadual e municipal.


 



Pude constatar, na prática, a conseqüência danosa dessa política, em recente visita ao alto Solimões, especificamente na área da tríplice fronteira (Brasil, Colômbia e Peru), onde o governo federal e estadual construiu fábricas de gelo, ração e farinha, estações de pós-larvas e alevinagem, entreposto de pescado, secadores de grãos, flutuantes de recepção de pescado e plantas de avicultura.


 



Praticamente toda essa infra-estrutura produtiva, em decorrência da concepção neoliberal predominante de então, foi repassada a gerência privada por intermédio de distintas entidades. A imensa maioria está desativada ou funcionando precariamente.


 


 O único empreendimento que ficou sendo gerenciado pelo poder público, no caso sob a responsabilidade da Secretaria de Produção Rural (SEPROR) e de seu instituto de assistência técnica e extensão rural (IDAM), uma estação de pós-larvas e alevinagem em Benjamin Constant, não apenas está em pleno funcionamento, como opera com auto-suficiência financeira.


 



São milhões de reais em equipamentos e instalações que estão se deteriorando. E o poder público terá que gastar outros tantos milhões para recupera-los e efetivamente incorpora-los ao processo produtivo.


 



Fica claro que o sucesso ou insucesso de um determinado empreendimento não está diretamente relacionado ao fato de ser gerido por ente público ou privado, mas sim pela qualidade profissional da gerência que se estabeleça.


 



É o caminho que pretendemos perseguir no sistema Sepror.

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