No próximo round, talvez

O super perdido de impeachment e as crescentes mobilizações de rua alteram a correlação de forças na luta política contra Bolsonaro

Alentado pedido de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro foi protocolado ontem na Câmara dos Deputados, subscrito por amplo leque de representações sociais e partidárias.

O documento reúne argumentos de outros 122 pedidos e menciona mais de 20 crimes de responsabilidade cometidos por Bolsonaro.

Para além do texto, ressoam negativas no conjunto da sociedade e nas múltiplas mídias fatos e revelações que reforçam o caráter genocida do governo e a descomunal incompetência do presidente.

Embora fincado em objetivos nitidamente definidos mediante o ex-super ministro Paulo Guedes e sua equipe, em plena sintonia com os interesses do rentismo e de parcelas da elite dominante tupiniquim, o governo do ex-capitão acumula derrotas sucessivas naquilo que se poderia supor tentativas efetivas de pelo menos amainar a crise econômica e social.

E os números colhidos pelos institutos de pesquisa já há algum tempo apontam tendência consistente de perda de confiança no presidente e reprovação do governo.

A própria base parlamentar majoritária governista, produto em parte da onda bolsonarista que confundiu o eleitorado no pleito de 2018, em parte fruto do toma lá dá cá de espaços na administração e de recursos de emendas extraordinárias, também dá sinais de vulnerabilidade.

O centrão — sempre se disse — nunca foi ao enterro de ninguém. Se o barco governista começar a fazer água, essa turma pulará fora e pode vir a reforçar a pressão oposicionista.

Assim, esse novo pedido de impeachment, autoproclamado “super”, acontece num instante em que se prenunciam alterações substanciais na cena política, vale dizer, na correlação de forças.

Entretanto, no meio do caminho tem uma pedra: o poder monocrático discricionário do presidente da Câmara, deputado Lira Arthur Lira.

Lira, comprometido até o pescoço com o governo, tem dito reiteradas vezes que não me enxerga provimento nos pedidos de afastamento definitivo do presidente da República. Certamente só mudará de atitude se surgir uma nova maioria na Câmara – fator novo que depende da pressão da sociedade.

Isso pode acontecer brevemente ou apenas às vésperas do próximo pleito presidencial.

Assim, o super pedido de impeachment é mais um round na luta para livrar o país da praga bolsonarista. Não dá em nocaute ainda. No próximo round, talvez.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor