Novo governo Lula: quantos além de um?

A cada espirro que o presidente eleito dá surgem especulações a propósito de questões consideradas nodais, conforme o segmento ou grupo de interesse

Foto: Ricardo Stuckert

Na esfera política, em nosso amado país tropical abençoado por Deus, há sempre uma pressão da tradição oral sobre a ideia escrita. Agora não é diferente — nesses dias que antecedem o início do terceiro governo liderado por Luiz Inácio Lula da Silva.

Antes e durante a campanha eleitoral, a partir de uma Plataforma de Reconstrução Nacional construída pela federação Brasil da Esperança (PT-PCdoB-PV), muitas contribuições se agregaram advindas tanto dos partidos políticos que se somaram à ampla aliança eleitoralmente vitoriosa, como de variados setores da sociedade, dos trabalhadores ao empresariado.

Então é lícito supor que há um escopo de ideias muito rico à disposição do presidente e de sua futura equipe de governo.

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E de compromissos assumidos publicamente – verbalizados pelo próprio Lula no curso da campanha.

Mas parece que nada vale.

Na grande mídia convencional e seus sucedâneos digitais, pela voz que analistas de variados matizes e mesmo de representantes de segmentos sociais diversos, sobretudo do poderoso e onipresente sistema financeiro, a cada espirro que o presidente eleito dá surgem especulações a propósito de questões consideradas nodais, conforme o segmento ou grupo de interesse.

Em paralelo, a Bolsa oscila conforme a natureza do noticiário e o dólar sobe ou desce — para deleite dos que desejam circunscrever Lula aos limites determinados pelos senhores do mercado.

Nessa guerra de guerrilhas midiática diária, a equipe de transição — ampla e palmilhada por nomes de projeção — é usada como fonte de especulação de toda ordem, quando na verdade a matéria essencial a que seus integrantes devam se dedicar está no relatório do Tribunal de Contas da União, contemplando 29 áreas do atual governo com ‘alto risco’ de má gestão.

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A que se devem somar informações oficiais solicitadas ao atual governo através do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira – sobre o que pouco ou nada tem vindo a público.

Mas a julgar pelo volume de especulações sobre a ocupação deste ou daquele ministério e o rumo de várias políticas públicas, não estaríamos tratando de um governo apenas, mas de múltiplos governos contidos num só. Um Frankenstein político-administrativo.

Uma fantasia posta em cena unicamente pelo jogo de pressões e contrapressões da parte dos que já não toleravam Bolsonaro, mas gostariam de ter um governo Lula que não mexesse em pilares essenciais da gestão econômica e do regime fiscal.

Mas o próprio Lula tem respondido com verve: “Vai cair a Bolsa, vai aumentar o dólar? Paciência”, ao defender, repetidas vezes, furar teto de gastos para assegurar compromissos sociais e enfrentar gargalhos da economia semiestagnada.
Isso é o que vale.

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