O Brasil que saiu das urnas em 2020

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Foto: Agência Brasil

As primeiras análises das eleições municipais de 2020 no Brasil, mostraram a direção em que o eleitorado caminhou logo após o tsunami de extrema-direita que elegeu Bolsonaro e seus aliados nas eleições nacionais de 2018.

Deixo registrado que a minha análise não tem pretensões de generalizar as suas conclusões, pois compreendo o pleito municipal dentro das suas particularidades locais e os interesses específicos dos municípios.

Mesmo assim é de se ressaltar alguns recados que as urnas já deram em 2020, como a rejeição ao bolsonarismo e ao seu discurso político, apenas dois anos após o atual Presidente da República ter sido eleito, assim como a rejeição ao discurso da “nova política” que havia impulsionado vários candidatos em 2016 nas eleições municipais daquele ano.

O eleitorado que em 2018 havia caminhado para a extrema-direita, parece ter voltado ao seu eixo de relativo equilíbrio democrático e se acomodado novamente no centro político, demonstrado nas votações expressivas de partidos tradicionais do sistema político brasileiro como DEM PSDB e MDB, esses dois últimos que haviam sofrido muito perdendo suas bases para o bolsonarismo em 2018, aliado ao crescimento de legendas do chamado “centrão” como PSD, PP, Republicanos e Podemos.

O MDB como de costume mantém sua tática em conquistar o poder local e se mantém como o partido com mais prefeitos e vereadores eleitos no Brasil, enquanto o PSDB governará a maior parte do eleitorado brasileiro.

O país demonstra que quer equilíbrio de poder contra o autoritarismo, o centro que se reorganizou, uma hora está aliado na direita, outra hora a esquerda, mas preferencialmente na direita.

A esquerda não teve um resultado devastador. Os partidos que representam esse campo político recuperam as suas votações em relação a 2016. O que ocorre na esquerda é uma mudança de forças com o PSOL em uma crescente incrível nas capitais ocupando o espaço que tradicionalmente foi do PT e PCdoB, além de uma aliança bem construída entre PDT e PSB, que produziu um crescimento interessante no nordeste.

Expressões da retomada de forças na esquerda são as votações expressivas de Boulos (PSOL) no segundo turno em São Paulo e Manuela (PCdoB) em Porto Alegre. Resultados positivo foram as vitórias de Sarto (PDT) em Fortaleza, JHC (PSB) em Maceió, a vitória da Frente Popular do Recife, liderada por João Campos (PSB) e a linda conquista de Belém por Edmilson Rodrigues (PSOL).

Destaco ainda fora das capitais as vitórias nas cidades de Contagem, terceiro maior eleitorado do Estado de Minas Gerais com Marília Campos (PT) e Margarida Salomão (PT) em Juiz de Fora, também em Minas, cidade que virou símbolo de culto bolsonarista por ter sido palco da facada, que o então candidato a Presidente da República, sofreu durante o processo eleitoral de 2018.

A incapacidade da esquerda em construir frentes únicas para disputar a eleição, pode ter contribuído com a derrota em alguns locais e freado um crescimento mais robusto do nosso campo politico. Quanto maior a divisão menor a chance de conquistar maiorias eleitorais.

Os maiores derrotados aparentemente foram aqueles que apostaram todas as suas fichas contra a política. Bolsonaro perdeu em quase todas as capitais que apoiou alguém, sugerindo que o bolsonarismo deixa os grandes centros urbanos para se fixar em cidades médias e nas extensões rurais.

O partido Novo, promessa da renovação liberal, amargou em Minas Gerais, o Estado que governa com Romeu Zema, a derrota de todos os seus candidatos a prefeitos, além de eleger somente 4 vereadores em todo o Estado.

A “nova política” foi vencida pela política, sem juízo de valor e falsos moralismos. Política é política, ainda bem que é assim, podemos comemorar os pequenos avanços das forças progressistas e os recuos da extrema-direita ultraliberal.

Está na hora de grandes consensos nacionais para reconstruir a democracia no Brasil e vencer o fascismo bolsonarista de vez em 2022. As urnas falaram que a esperança nasce das maiores adversidades e que para exercer o poder é preciso dialogar com os diferentes.

O caminho político é o da unidade progressista, a esquerda só foi vitoriosa nessas eleições municipais, nos locais onde conseguiu sair do isolamento político e compor com forças de centro e até mesmo de direita. A frente ampla na prática demonstra ser a tática política e eleitoral mais acertada para existirmos e avançarmos na atual conjuntura.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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