O caso Lázaro e a banalização da morte

O Caso Lázaro, que tomou os noticiários de todo Brasil, traz à tona questões sobre como tratamos a vida de um criminoso

A última semana de junho trouxe para todos nós o desenrolar e fim do que ficou conhecido como Caso Lázaro, haja vista a grande procura pelo criminoso que tomou proporções nacionais pela dificuldade de sua captura.

O que nos chama atenção e merece nosso debate não é o caso em si, mas dois fatores: o que leva a existência de outros Lázaros por aí e o que foi feito no momento que ele foi encontrado, na prática o seu extermínio.

Sobre o primeiro ponto, é interessante observar o que leva a existir tantos Lázaros por aí, afinal de contas, crimes como os cometidos pelo rapaz em questão, não são novidades no campo, pelo contrário, são mais comuns do que se imagina.

A falta de oportunidades de melhora de vida, de empregabilidade e de estudo são os principais motivos que levam muitos jovens optar pela vida no crime, muito mais simples, barata e de retorno imediato.

Veja bem, não se trata de defender bandido os argumentos aqui apresentados, mas sim de enxergar o que leva a construção social dos criminosos, que obviamente, se infringiram a lei, devem ser punidos, mas nos modos descritos em nossas leis e presentes no Estado Democrático de Direito, algo que também não foi respeitado no caso que debatemos aqui.

A punição a crimes, especialmente os hediondos, deve ser exemplar, mas com o indivíduo vivo, dar mais de 100 tiros em uma pessoa já presa e indefesa não pode ser vista de maneira normal, a impressão que se tem é de crime de ódio, ou até pior, queima de arquivo, haja vista que Lázaro poderia denunciar vários fazendeiros da região ligados a contratação de matadores de aluguel e grilagem de terras, e aí? Vamos banalizar a morte simplesmente porque o rapaz havia cometido crimes e era procurado pela polícia?

Precisamos valorizar a vida, todas elas. Nos mais de 500 mil mortos por COVID, também não é diferente, afinal eram amores de alguém, não podemos deixar de sentir tristeza pelas perdas e revolta pela não punição dos responsáveis. Será que no caso Lázaro é diferente? Só por que ele havia cometido crimes vamos achar que sua vida era menos importante?

Toda vida importa e os atos cometidos que infringem a lei devem ser punidos com rigor, mas nos moldes do que rege a legislação, não podemos voltar aos tempos bárbaros onde se fazia justiça com as próprias mãos, mesmo a polícia não tem o direito de exterminar o que ela chama de bandido de maneira cruel e desnecessária, por que não prender e aguardar o julgamento para que se pague em vida os crimes cometidos?

Precisamos repensar a espetacularização da morte, especialmente em programas televisivos que vivem de propagar o discurso de ódio, intolerância e desrespeito, a existência da sociedade de classes é o principal motivo que leva a violência e o latrocínio, mas isso não é falado, nem mesmo cogitado, o que importa mesmo é eliminar aquele que cometeu o delito, como se ele não fosse uma imagem espelhada da desigualdade social.

Não vamos perder a capacidade de se indignar e de lembrar que o Caso Lázaro é apenas mais uma amostra do que acontece quando não se igualiza as oportunidades, pois se causa revolta a existência de criminosos, mais ainda deveriam ser os motivos que levam a isso.

Até a próxima.

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