O descalabro e o voto

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Em reuniões de círculos avançados de candidaturas às Prefeituras e Câmaras de Vereadores, escuto com frequência muita inquietação sobre uma possível influência de Bolsonaro sobre o eleitor mais sofrido, apesar do descalabro que é seu governo.

Argumenta-se com a absurda insanidade do presidente em relação à pandemia do novo coronavírus e com o desastre da economia e suas terríveis consequências sobre a vida das pessoas.

Como se a relação entre a realidade concreta e a consciência política se desse de modo automático, quase mecânico.

Mas não é assim. É permeada pela luta no terreno das ideias, nos seus diversos matizes ideológicos e políticos.

E também a maldita realidade concreta não se apresenta retilínea, cabível num gabarito.

Basta anotar que cerca de 70% de mais de metade dos brasileiros e brasileiras beneficiados com o auxílio emergencial – que Bolsonaro concedeu por determinação do Congresso Nacional, contra a sua vontade – sobrevivia com renda familiar mensal de apenas R$ 3,00.

Toda essa gente vê na tela do seu smartphone a logomarca da Caixa Econômica Federal e associa obviamente ao governo federal.

Mais: nesses quase sete meses de pandemia, cerca de 2 milhões de brasileiros das camadas mais pobres melhoraram de vida. No outro polo, os bilionários, esses formam o contingente que mais enriqueceu no período.

Por essa e outras se diz que o Brasil não é para principiantes.

E não é mesmo.

Nem a luta política se faz apenas com boa vontade. Há que combinar sensibilidade, ausculta à população com tirocínio e capacidade de convencimento.

Por mais que a grande maioria dos candidatos suponham que materiais de propaganda, vídeos e cards que circulam nos meios digitais, principalmente, bastem para conquistar o voto, a realidade demonstra que não é assim.

Especialmente numa conjuntura como a atual, em que as múltiplas trincheiras eleitorais se dão ainda sob o impacto da onda conservadora matizada de ideias e atitudes da direita extremada.

Ou seja, lutamos agora no quadro do novo ciclo político inaugurado com a vitória de Bolsonaro nas eleições presidenciais.

Beco em saída? Claro que não. A realidade é muito dura para a maioria dos brasileiros. Forças politicamente avançadas podem conquistar vitórias eleitorais. Têm argumentos concretos e justos para convencer maiorias. Mas precisam, sim, superar o simplismo do control-c e control-v (copiar e colar e passar adiante) como meio supostamente determinante da conquista do voto.

Seja no contato direto, relativamente restrito em razão da pandemia, seja por via digital – a conversa de viva voz via WhatsApp principalmente –, é preciso intensificar e dar volume a essa espécie de “trabalho braçal” em busca do voto.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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