O fascinante mundo Fashion

Pelo mito bíblico, o primeiro homem, a primeira mulher e o próprio Deus fizeram trajes – os humanos, de folhas; o divino, de peles. Milênios se passaram e hoje o vestuário, como todas as coisas tocadas pelo Midas capitalista, tornou-se mercadoria e

Segundo o Gênesis, após Eva comer o fruto da árvore proibida e oferecê-lo a Adão, abriram-se “os olhos de ambos; e, percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira e fizeram cintas para si” (3:7). Isso não foi suficiente para esconder suas vergonhas, pois quando Deus pergunta a Adão onde ele (Adão) se encontrava, o primeiro homem responde: “Ouvi a tua voz no jardim e, porque estava nu, tive medo, e me escondi”. (3:10) Deus logo percebe que Adão soube que estava nu porque comeu “da árvore de que te ordenei que não comesses” (3:11). Adão responsabiliza Eva por sua desobediência e esta diz que foi induzida pela serpente. Os três e seus descendentes (ai de nós!) foram condenados a viver neste vale de lágrimas e, em seguida, teve início a alta costura (altíssima, pois que divina): “Fez o Senhor Deus vestimenta de peles para Adão e sua mulher e os vestiu” (3:21).


 


Desses primeiros trajes de pele – que hoje seriam condenados pelos politicamente corretos – até a estampa de 'peixe-onça', em vestidos imitando escamas e lembrando formato de peixe (apresentados pelo garoto-modista Pedro Lourenço – 16 anos – nas passarelas de São Paulo), a vestimenta acompanhou a história humana, mas só recentemente se tornou uma indústria de proporções gigantescas.


 


No livro Era dos extremos: o breve século 20: 1914-1991, Eric Hobsbawn diz que a industrialização da alta-costura e da indústria de beleza  começou a partir da década de 1960, resultado do pleno emprego e da sociedade de consumo. Está vinculada à descoberta do mercado de consumidores jovens, que se expandiu em meados dos anos 1950, quando também floresceram as indústrias de cosméticos, de cuidados com os cabelos e de higiene pessoal.


 


Ele refere que o blue jeans, “traje deliberadamente popular introduzido nas universidades americanas por estudantes que não queriam parecer com seus pais”, tornou-se, juntamente com o rock, marca da juventude 'moderna'. Registra: “A descoberta desse mercado jovem em meados da década de 1950 revolucionou o comercio de música popular e, na Europa, o mercado de massa da indústria da moda”. Os jovens das classes alta e média, “pelo menos no mundo anglo-saxônico que cada vez mais dava a tônica global, começaram a aceitar a música, as roupas e até a linguagem das classes baixas urbanas, ou o que tomavam por tais, como seu modelo”, lembra o historiador. Examinando o que caía no gosto ou o que era rejeitado pelos consumidores dessa época, o estudioso D. Elliston Allen constatou que se destacavam as compras das jovens trabalhadoras inglesas, “como blusas, saias, cosméticos e discos populares'.


 


A partir desse período, o mercado de moda para os jovens plebeus estabeleceu sua independência e começou a dar o tom para o mercado grã-fino. “À medida que o blue jeans (para ambos os sexos) avançava, a haute couture de Paris recuava, ou antes aceitava a derrota usando seus prestigiosos nomes para vender produtos do mercado de massa, diretamente ou sob sua franquia. O ano de 1965, a propósito, foi o primeiro em que a industria francesa de roupas femininas produziu mais calças que saias”, escreve Hobsbawn.


 


Difícil imaginar, hoje, que partes do corpo foram cobertas pelas cintas e folhas de figueira que não foram suficientes para pôr abaixo os pudores de Adão e Eva. A Bíblia também não descreve o modelito de peles criado por Deus para vestir as duas primeiras criaturas que fez à sua imagem e semelhança. Intui-se que nada custaram, pois ainda não havia valores de troca, apenas de uso, na vida daquele casal, e nem moeda que pudesse ser usada na transação.


 


Mas hoje, quando se cobrem ou se mostram as mais variadas partes dos corpos masculino e feminino, há uma verdadeira indústria ditando regras, favorecendo interesses e formando opiniões. E tome cinturas mais deslocadas para baixo, formas mais soltas, muito chiffon, franjas, estampas aquareladas e brilhos de canutilhos. No verão 2007 circularão praticamente todas as cores, das mais claras e em tom pastel, como o branco em suas mais variadas nuances, passando pelo creme, bege, verde e azul bem claros, a cores vivas, com o vermelho, laranja, amarelo, azul, roxo e verde bem fortes. “Parece que o rosa, tão presente nas últimas estações, vai ter um descanso”, notou uma jornalista que está acompanhando a São Paulo Fashion Week. Ah, o tradicional azul marinho também apareceu em várias coleções, inclusive na moda praia.


 


A indústria da moda ordena: é tempo de renovar o guarda-roupa!

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