O Filho Eterno

“O Filho Eterno” é um filme sobre aceitação, preconceito e superação

Filme "O FIlho Eterno" | Foto: Divulgação

O filme “O Filho Eterno”, lançado em 2016, com direção de Paulo Machline, foi inspirado no livro homônimo do escritor curitibano Cristovão Tezza, que registra o drama do casal acerca da condição genética do bebê que acaba de nascer e expõe as dificuldades, inúmeras, e as pequenas vitórias de criar um filho com síndrome de Down A película é filmada principalmente em Curitiba.

É julho de 1982, época de Copa do Mundo, realizada na Espanha. Altas expectativas de o Brasil chegar ao tetracampeonato. Em Curitiba, o casal Cláudia e Roberto aguardam ansiosamente o nascimento do primeiro filho, tanto quanto Roberto espera a vitória do Brasil no futebol.

O parto de Cláudia é normal, mas o filho Fabrício nasce com síndrome de down. O pai Roberto alimentava grandes esperanças no filho que estava para nascer e, ao saber da condição de Down, frustra-se profundamente, enquanto a esposa, ainda que preocupada, devota carinho ao filho recém-nascido. Simultaneamente, a seleção brasileira é desclassificada pela Itália, por 3 a 2. Uma dupla decepção para Roberto, que já no início da película, abandona o filho pela primeira vez ao deixar sua camisetinha amarela na mesa de um bar, após relato do médico sobre a condição genética do filho.

Em várias cenas Roberto apresenta sentimentos como culpa, rejeição, medo e negação em função da deficiência do filho e pesquisa possíveis “curas”. Chega a mostrar sinais de felicidade ao encontrar um texto em um livro que comenta que crianças com síndrome de Down podem morrer até os dois anos de idade (porque muitas também portam cardiopatia congênita, causa dessa morte com pouca idade), nos chocando com tamanha frieza. A mãe, ao contrário, procura cuidar e acompanhar com estímulos o filho. Em meio ao sentimento de rejeição do filho, Roberto desenvolve um pensamento macabro, de que a causa de sua aflição possa sumir, pois poderia morrer, chega a sorrir pensando nisso. Contudo, num exame pediátrico o médico avalia que a saúde física de Fabrício está muito boa, motivo de decepção do pai.

Roberto reclama que não consegue escrever uma linha desde que o garoto nasceu, não dorme, diz que não aguenta mais e critica Claudia que não responde aos reclamos dele. Em uma cena em uma clínica no Rio de Janeiro ao procurarem um especialista, outra manifestação de preconceito do suposto médico quando fala ao casal que “seu deficiente vai ficar normal”. A partir disso, Fabrício é forçado a fazer esse tratamento, mas resiste, não parece dar nenhum retorno. Roberto insiste nisso, irrita-se com o pequeno progresso do filho, mas Cláudia na proteção do filho, evita forçá-lo nesse tratamento que parece o maltratar.

Filme “O FIlho Eterno” | Foto: Divulgação

O primeiro momento emocional de Roberto é negar e rejeitar o filho. Passa a beber em excesso. Ele entende que perdeu a liberdade, em vista do maior grau de dedicação e cuidados que um bebê assim necessita. É um professor de Literatura e escritor, que trabalha em casa, enquanto a esposa trabalha numa redação jornalística.

Se em pleno século XXI, temos ainda desafios para enfrentar no que se refere ao convívio, a diversidade, a igualdade e o respeito às pessoas com síndrome de Down ou a qualquer tipo de deficiência à época do filme o preconceito era mais evidente, Importante revelar que os primeiros relatos da síndrome de Down surgiram possivelmente em 1864, quando um médico inglês começou a observar certas características diferentes em algumas crianças. Houve avanços importantes do ponto de vista de sua identificação, no entanto, algo permanece igual: a luta por acessibilidade e respeito às pessoas com deficiência.

O tema do abandono tratado no filme é registrado pelo jornal da USP que destaca que no Brasil em 2012, cerca de 78% dos pais abandonaram as mães de crianças com deficiências e doenças raras, antes dos filhos completarem 5 anos de vida, trazendo dados do Instituto Baresi. Segundo a informação do jornal, o motivo desse abandono, na maioria dos casos, é explicado pelos maridos, pais dessas crianças, que alegam não conseguirem suportar o luto da perda do “filho ideal”, por isso “dão um apoio muito frágil ou simplesmente abandonam”.

Momentos de reencontro e de aflição perpassam pelo filme, com destaque para a atuação dos três personagens incluindo o menino Fabricio (Pedro Vinicius) que, como o pai, ama o futebol, motivo esse de reencontros e perdas.

“O Filho Eterno” é um filme sobre aceitação, preconceito e superação, evidenciando, como ocorre na vida cotidiana, que a grande maioria das mulheres mães assumem sós o papel de provedora do lar com uma carga maior que é a atenção a seus filhos reafirmando a condição histórica e social da mulher/mãe como principal cuidadora do filho com deficiência, demonstrando que o cuidar é atribuído historicamente à mulher/mãe que, inserida num sistema patriarcal-capitalista, tem sido relegada a uma condição de subalternidade.

O Filho Eterno
País e ano: Brasil, 2007
Gênero: Drama
Direção: Paulo Machline
Elenco: Marcos Veras (Roberto), Débora Falabella (Cláudia), Pedro Vinícius (Fabrício)

Referência:

https://www.adorocinema.com/filmes/filme-246159/

https://jornal.usp.br/atualidades/luta-de-maes-de-criancas-autistas-e-marcada-pela-dor-do-abandono/

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