O futebol no inferno

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“O futebol no inferno está grande a confusão

Vai ver a melhor de três pra ver quem é campeão

O time do Satanás ou quadro de Lampião

Deus me livre de eu ir lá (…)” José Francisco Soares.

A letra da embolada acima, de autoria do cordelista José Soares e cantada pela dupla Caju e Castanha, parece ter sido feita por encomenda para celebrar o atual momento vivido no Brasil. A canção retrata uma partida de futebol disputada no inferno entre o time de Lampião e o quadro de Satanás.

Em meio à maior crise sanitária da história de nosso país, com irmãos brasileiros sendo intubados sem anestesia nos hospitais, com uma média de mortes diária beirando a duas mil almas, profissionais de saúde sendo exigidos à exaustão, eis que o genocida ocupante da cadeira presidencial se regozija em festejar a realização da Copa América de futebol no Brasil.

 Fosse em qualquer outra época ela seria bem-vinda. Todo grande evento movimenta a economia e traz visibilidade ao país. Principalmente o futebol, uma paixão nacional, é capaz de integrar as pessoas e promover uma tão desejada atmosfera de alegria.

 Mas a Copa América no Brasil, bem como qualquer outro evento festivo, no atual momento, é um insulto à dor e um desrespeito ao luto de milhões de brasileiros que perderam e estão perdendo entes queridos mortos pela irresponsabilidade de um governo que deixou faltar vacina ao seu povo. É um ultraje à memória de quase meio milhão de brasileiros mortos. Enquanto se enterra dois mil por dia, finge-se estar tudo bem e o jogo segue.

O governo Bolsonaro deveria estar gastando todas as suas energias para sediar uma Copa da Saúde no país, convocando seleções de especialistas no enfrentamento à Covid. Deveria estar mobilizando a união nacional em torno da mais importante vitória contra o adversário que precisa ser superado: o coranavírus.

As realizações de partidas de futebol envolvendo clubes brasileiros sem a presença de público podem até ser justificadas pelo fato de estarem inseridas nas demais atividades econômicas do país. São milhares de empregos que precisam ser preservados e eventos esportivos que podem seguir adiante com a situação controlada em algumas cidades, atendendo-se os protocolos sanitários estabelecidos. Mas o que justifica um evento externo neste momento, decidido entre quatro paredes aos 45 do segundo tempo? A que e a quem serve esta Copa no atual cenário de pandemia?

Há cerca de dez anos comemorávamos a escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo de futebol. Na época, éramos a sétima economia do mundo, vivíamos o pleno emprego e o mundo inteiro olhava com simpatia para o nosso povo e país. Foram anos de planejamento e organização de um evento que tinha como objetivo deixar um legado social ao país.

Mas uma parcela significativa da população foi para as ruas boicotar o evento e exigir hospitais “padrão Fifa” e gritar o “Não vai ter Copa”. Será que agora, no cenário de guerra em que vivemos, vão aceitar esse “Padrão Conmebol”?

A partida entre Lampião e Satanás do cordel terminou empatada em 100 a 100. O jogo político da vida real de Bolsonaro, que aposta no caos, vai levar o país a uma derrota sem precedentes. De um país que chegou à primeira divisão entre as nações mais desenvolvidas ao rebaixamento às divisões mais subalternas do mundo. Derrotemos esse time de genocidas antes que seja tarde demais.

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