O modelo faliu

“A chegada do novo coronavírus levou o laissez-faire ao seu limite”

Noite em uma calçada do Rio de Janeiro - Foto: Projeto Ruas/Facebook

A construção de estruturas econômicas nas mais diversas nações sempre contou com intervenções estatais, como bem destacou o economista sul-coreano Ha-Joon Chang. O enrijecimento das barreiras alfandegárias, incentivos aos setores de P&D, alavancagens de mercados consumidores e financiamentos públicos para a internalização das cadeias de valor foram fatores decisivos da existência de um período de aumento da justiça social denominado de Trente Glorieuses após a Segunda Guerra Mundial.

Visando manter a divisão internacional do trabalho e retirar as amarras aos processos de acumulação privada, mesmo que pela via especulativa, a doutrina do laissez-faire concebida por Hayek, Mises e outros vigorou no mundo a partir da década de 1970. Privatizações, desregulamentações de capitais, eliminação de legislações trabalhistas e assistenciais e cortes de gastos públicos justificados com enigmáticas dívidas produziram menores taxas de crescimento e sucessivas crises.

Embora crises tenham sido comuns, alguns dispositivos do momento histórico anterior ficaram erguidos e intervenções dos Bancos Centrais garantiram a manutenção de certo status quo por décadas, convivendo com escalada dos discursos xenofóbicos e de ataques à democracia ocidental, cortinas de fumaça para manter políticas públicas facilitadoras das fortunas e justificar as mazelas do novo modelo econômico.

A chegada do novo coronavírus levou o laissez-faire ao seu limite. O governo alemão projeta queda da atividade econômica da ordem de 5%, enquanto a Moody´s prevê reduções de PIBs de 2% para os Estados Unidos e 2,2% para a Eurozona. A OMC estima queda das transações internacionais de 13% a 32% e mais de 500 milhões de pessoas serão arrastadas para a pobreza, com a insegurança alimentar margeando os salões encarpetados de Paris e NY.

O difícil cenário social em que já estávamos foi piorado pelo coronavírus e a existência humana se tornou inviável. A esperança de que dias melhores virão, entretanto, não foi sequer arranhada, já que os bons exemplos do presidente Roosevelt e do economista Keynes serão guias da retornada das práticas dos Trente Glorieuses ou o socialismo dará contornos a nova ordem mundial.

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