O nefasto projeto de esvaziamento das instituições educacionais públicas

Este é um projeto de exclusão social que foi muito bem pensado pelo governo federal, pois diminui o número de estudantes nas escolas federais e justifica cada vez mais seu irresponsável corte de gastos

Fotomontagem feita por Artur Nogueira com as fotos de: Rovena Rosa/Agência Brasil e Design Office/Divulgação

Quando Darcy Ribeiro falava que o caos da educação brasileira era um projeto, obviamente ele não falava de nosso presente pandêmico, mas esta sua passagem nunca foi tão atual.

Passados cerca de quase dois anos de pandemia, graças à irresponsabilidade do presidente que resolveu brincar de imunidade de rebanho com o povo e consequentemente levou a óbito mais de 600 mil pessoas, temos um cenário de guerra para recuperar a nação na temática educacional.

Pegando os números de inscritos parciais nas seleções dos cursos integrados e subsequentes dos Institutos Federais de Educação (IFs), é visível a diminuição de jovens interessados nestas tão importantes vagas de ensino público, gratuito e de qualidade (apesar das sabotagens do governo federal). Se o recorte for pela origem do aluno (escola pública ou não), é possível perceber que parte significativa, com alguns lugares sendo maioria, de alunos oriundos das instituições privadas.

Observando ainda o número de vagas ociosas e evasão nos cursos de graduação das Universidades Públicas, percebemos o mesmo fenômeno, neste caso um grande aumento, evidenciando um imenso hiato de oportunidades que poderiam ser preenchidas por aqueles que sonham com um diploma universitário.

Bom, o que a diminuição de interessados nos IFs e o aumento das vagas ociosas nas IES têm em comum? Em resumo, elas mostram o efeito (pensado) da pandemia na educação. Vamos explicar.

Os alunos que neste momento são os concluintes do ensino fundamental, passaram praticamente dois anos (8° e 9° anos) fora do ambiente escolar. No caso do ensino público, as aulas acabaram sendo através de Planos de Ensino Tutorados (PETs), em que os estudantes pegavam os exercícios na escola, faziam em casa e entregavam de novo na instituição para os professores corrigirem e darem notas.

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Bom, não precisa ser nenhum gênio para saber que este modelo não deu certo, muitos não faziam ou nem pegavam os PETs, deixando as atividades escolares de lado e indo para o mercado informal de trabalho por conta da crise econômica em voga no país. Outro fator que também colaborou com esse fenômeno foi a necessidade de os irmãos mais velhos cuidarem dos mais novos para as suas mães trabalharem, já que para a maior parte da classe trabalhadora o serviço remoto não aconteceu na prática.

Estes dois exemplos citados no parágrafo anterior evidenciam o que a pandemia refletiu para a escola pública, aumento da evasão e da sensação de pertencimento ao ambiente escolar, essa inclusive mais grave de ser combatida, pois exige que o sujeito se sinta parte da instituição escolar, local que ele está afastado a praticamente 24 meses.

No caso do ensino superior, não é diferente, o abandono de muitos alunos tem como fator principal a necessidade de trabalhar, já que o caos econômico e social reina em nosso país, como estudar com fome e passando necessidades? Sem os bandejões e demais auxílios que a Universidade oferece aos mais humildes, como sobreviver?

Pode parecer coincidência, mas não é. Este é um projeto de exclusão social que foi muito bem pensado pelo governo federal, pois diminui o número de estudantes nas escolas federais e justifica cada vez mais seu irresponsável corte de gastos.

Se não há alunos, para que vagas? E aí fortalecem os argumentos dos que defendem o fechamento de turmas e cursos, em especial daqueles em que os filhos da classe trabalhadora frequenta, como as licenciaturas e os cursos técnicos noturnos, que tem menor apoio social por serem menos glamourizados.

Podemos, em um curto tempo, ter uma diminuição de vagas no curso técnico e superior públicos, nunca imaginada. É evidente que Bolsonaro e sua trupe não cansam de atacar as IES, em especial com o congelamento de seus orçamentos, mas a ação de sua tática de “imunidade de rebanho” parece ter chances reais de conseguir o retrocesso defendido pelo atual ministro da educação, que defende que a Universidade seja para poucos.

A situação é muito difícil, pois como nem todos os adolescentes tomaram a segunda dose da vacina, retornar com as aulas presenciais ainda esse ano é um risco que muitas instituições preferem não enfrentar, o que está correto do ponto de vista da saúde pública. Mas o que fazer?

Vivemos um momento caótico e é preciso buscar saídas coletivas para os problemas sociais que passamos, mas por hora, é possível constatar que nunca esteve tão perto de se concretizar o projeto de exclusão social liderado pela plutocracia miliciana que nos governa.

Até a próxima.

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