O peso da realidade concreta

Ganha força na consciência da maioria dos atores de destaque na cena política a absoluta necessidade de colocar a democracia e a nação em primeiro plano e constituir, sim, a frente ampla

Lula debateu com dirigentes do PCdoB no Recife a formação de uma ampla frente contra Bolsonaro l Foto: Diego Galba

Um velho amigo, experiente na luta política, costuma dizer que a desgraça dos sectários está na maldita realidade concreta.

Por exemplo, no que se refere à alianças políticas.

Para uma corrente política estreita e preconceituosa, “esquerdista” — vale dizer, isolacionista — difícil é conviver com o relógio, diz ele.

Num instante, os ponteiros marcam meia-noite ou meio-dia e uma determinada opinião política se estabelece.

Porém no minuto seguinte, já não é mais meia-noite nem meio-dia: o tempo assinala a realidade em movimento, que frequentemente traz em si alterações na cena política.

Aí o estreito, preconceituoso e sectário perde as estribeiras.

Como pode o adversário de ontem de repente se apresentar como aliado hoje?

O mesmo se dá em relação a ideias-força numa determinada situação tática.

A proposta de uma ampla frente política e social capaz de sustentar novo pacto entre partidos políticos, grupos variados e setores da sociedade e mudar os rumos do país não é simples de se realizar.

Mas se realiza. No tempo devido.

E esse tempo se assenta no amadurecimento de um conjunto de variáveis que conduzem, na prática, há uma necessidade imperiosa do ajuntamento de forças.

A Aliança Democrática, que se constituiu nos estertores do regime militar, e propiciou a vitória das oposições no colégio eleitoral que elegeu Tancredo Neves presidente da República se fez por imposição da realidade.

Da esquerda a ACM, Marco Maciel e outros, se alimentou a ampla coalizão que derrotou Maluf, o candidato ungido pelos militares.

E se iniciou a redemocratização do país.

Agora, pouco a pouco ganha força na consciência da maioria dos atores de destaque na cena política a absoluta necessidade de colocar a democracia e a nação em primeiro plano e constituir, sim, a frente ampla.

Domingo último, o ex-presidente Lula asseverou, em encontro com dirigentes do PCdoB, no Recife, sua firme determinação em seguir conversando com as mais diferentes personalidades e facções políticas e empresariais, no intuito de contribuir para uma convergência a mais larga possível, no sentido de isolar, enfraquecer e derrotar Jair Bolsonaro e o seu governo de extrema-direita.

Um dado importante, considerando inclusive o relevante papel do Partido dos Trabalhadores — que nem sempre se posiciona de modo amplo e flexível — na construção dessa amplitude de forças.

É o peso da realidade concreta, que se altera conforme muda a posição dos ponteiros no relógio…

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