O quarto episódio do livro Antifascistas

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Não pule abertura

Na TV 247, o Antifascistas é o maior lançamento virtual de um livro até hoje no Brasil.

O quarto episódio é o terceiro lançamento.

Ha 7 dias

Na quinta-feira 28/05/2020, foi a vez do encontro da escritora Maria Valéria Rezende, do escritor Urariano Mota e do poeta e editor Gustavo Felicíssimo. O poeta Hildeberto Barbosa Filho não pôde comparecer, mas seus poemas na coletânea foram lidos por Regina Zappa.

Nesse lançamento virtual da coletânea e nos próximos, os episódios são apresentados por Regina Zappa, autora de um dos contos, e Leonardo Valente, um dos organizadores do Antifascistas, ao lado de Carol Proner. Como sempre, o encontro se fez em torno da resistência na literatura contra o fascismo. Vamos sem demora aos trechos dos quatro autores, sem spoiler.

Gustavo Felicíssimo, na crônica “O valor das coisas”, cujo final não devo antecipar:

“Dona Jacinta, espantada, observa demoradamente a nota e exclama: ‘Euros’! Foi o suficiente para a curiosidade alheia. Todos no busão queriam ver a tal nota. E ela adiantou, antes de qualquer olhar desconfiado, que a

havia recebido da patroa, uma espanhola que só podia ter se equivocado. Uns diziam: ‘Que mulher sortuda’. E houve de tudo: quem a aconselhasse a fingir que sequer havia percebido o equívoco, e até quem se propusesse ali mesmo a trocar a nota por reais, mas com a devida depreciação cambial.

Dona Jacinta não deu ouvidos a quem quer que fosse, e como era conhecida do cobrador pelo fato de estar ali todos os dias, chovendo ou fazendo sol, há tantos anos, pediu-lhe que a deixasse descer no ponto costumeiro, penhorando a sua palavra como garantia de que no dia seguinte pagaria a passagem; no que foi atendida prontamente.

Ao chegar à casa de Sarah, soube que Mariah havia ligado, dando falta da tal nota de euro, e antes que lhe fosse perguntado qualquer coisa procurou se antecipar e contou à patroa a respeito de todo o ocorrido com minúcia de detalhes. Foi o suficiente para ambas darem muitas risadas e tudo se esclarecer sem qualquer mácula”.

Hildeberto Barbosa Filho, no poema Data:

“31 de março.

Todo ano dói.

Que palavras

posso usar para lembrar

o terror?

Sei que alguém gritava

madrugada adentro.

Unhas arrancadas,

ouvidos explodidos,

gemidos, gemidos, gemidos.

Marquei isto para sempre

no meu calendário”

Maria Valéria Rezende, no conto “Saio não, senhor”:

“ ‘Sair daqui? Saio não, senhor, de jeito nenhum. Hoje é meu turno e eu não falho, como nenhuma mulher deste lugar falha na vez dela. Foi coisa há muito tempo combinada, palavra dada, de uma em uma, e palavra de mulher aqui é feito bala de revólver, depois que disparou não volta atrás.

E nem o senhor vai passar com esse carro, que já faz pra mais de dez anos que aqui não passa nenhum. E não foi pra isso mesmo que a gente acertou de não deixar esse monte de pedra sozinho, sem guarda, hora nenhuma do dia nem da noite? Falhou nunca! Se uma tiver impedimento grave é só chamar que outra vem, não é mesmo, Comadre Raimunda? Se houver confusão, vêm todas! A comadre é a testemunha maior, que daí desse alpendrezinho dela fica de olho, sempre que pode, pra prevenir o mulherio todo se aparecer alguma perturbação. Eu mesma só falhei uma vez por causa da barriga e do resguardo do meu último menino, mas a guarda das pedras não ficou descoberta. Sobrou gente pra cobrir meu turno’ ”.

Urariano Mota, no conto “A Última Hora”:

“ ‘Por Deus, como são parecidos’, a advogada se diz. Outros perseguidos pela ditadura ela já havia visto nas mesmas circunstâncias. ‘Há os loucos, os enlouquecidos. Há os covardes, que se acovardam. Há os desesperados,

que caminham para a morte’, ela escreverá num diário, em que completará: ‘Vargas era do terceiro tipo. Ele estava desesperado’, primeiro anotará numa linha do seu caderno íntimo. Ela olha para Vargas com simpatia, como se o conhecesse há muito, em outros corpos, mas em igual situação. E por isso lhe propõe uma saída, que Vargas não consegue ver na hora da aflição:

– Fuja agora. Fuja enquanto é tempo.

Ele poderia responder que não tem para onde ir, que é um balconista de livraria, filho de mãe viúva, que os pobres não têm para onde ir”.

Há 24 horas

No quarto lançamento na TV 247, na mais recente quinta-feira, houve outro time muito bom, sempre a jogar pela esquerda. O ataque foi assim escalado: Cristina Judar, Jeferson Tenório e Rodrigo Novaes de Almeida. Apresentados por Regina Zappa e Leonardo Valente. Imaginam o que vem dessas feras dignas do Brasil que desejamos? Na próxima semana eu conto.

Créditos do espisódio

Enquanto as próximas emoções não vêm, aconselho que adiantem a maratona antifascista com a leitura total do livro Antifascistas. À venda aqui: Editora Mondrongo

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