O recado da classe política maranhense

Os atores da corrida eleitoral já se encontram posicionados e o tensionamento prévio, tão característico de grandes campanhas, logo vai ser substituído por uma efetiva disputa, de alta temperatura

Prefeitura de São Luis

A corrida pela prefeitura de São Luís acelerou de vez, e antes mesmo do primeiro jingle ou do primeiro debate já está claro um recado explícito do establishment local: os partidos tradicionais se agruparam em busca de um projeto político que destoa das diretrizes do Palácio dos Leões. E nos referimos aqui à capacidade organizativa das coligações em buscarem apoios que, até o presente momento, ignoram a coalizão montada e ampliada por Flávio Dino desde 2014.

As pré-candidaturas estabeleceram seus blocos contando com uma leitura que compartilhamos: o discurso antipolítica de 2018 perdeu força, ainda mais se tratando de um pleito no qual as reivindicações são de ordem prática. A viabilidade eleitoral de um candidato a prefeito ou a vereador dificilmente se sustenta numa agenda pós-materialista, muito menos com a voracidade com a qual testemunhamos a extrema-direita capturar a atenção do eleitorado brasileiro.

Pelo contrário, as estratégias em jogo nas eleições municipais passam muito mais por uma disposição de resolver a ordem do dia, o bueiro estourado, a rua esburacada, a iluminação pública. Ainda que este seja o lugar comum, e o leitor sabe bem disso, as alianças locais podem ou não refletir os acordos nacionais entre os partidos políticos.

Assim, o que se observa na conjuntura da política ludovicense são os atores se distanciando do centro de gravidade do Palácio dos Leões, com sinalizações muito nítidas de que a corrida pelo executivo municipal da capital é um termômetro do que vai acontecer em 2022, quando estará em jogo a sucessão de Dino.

Há alguns dias apontamos que é um fato digno de nota que os três senadores maranhenses, todos eleitos na plataforma do governador do estado, declararam apoio a candidatos diferentes no primeiro turno. Roberto Rocha (PSDB) com Eduardo Braide (PODE), Weverton Rocha (PDT) com Neto Evangelista (DEM) e Eliziane Gama (CIDADANIA) com Rubens Júnior (PCdoB). Parece uma questão de tempo que se assuma de vez que a coalizão que derrotou Roseana Sarney em 2018 se dividida em frações do poder, mirando um lugar ao sol no executivo estadual.

É óbvio que nenhuma coalizão de governo se perpetua por muito tempo (com raras exceções que demonstram virtude e fortuna por parte de seus articuladores) de maneira homogênea e sem atritos, mas o que se percebe, olhando para a atualidade, mas mirando no futuro, é um abandono quase que completo do projeto encabeçado por Dino.

Aqui destacamos duas características marcantes do governo do estado, que valem como instrumento de análise quando entenderemos o que se passou no Maranhão em 2020: 1) a capacidade do governo de implementar uma agenda de centro-esquerda baseada em desenvolvimento e justiça social e 2) a capacidade do governo de implementar uma agenda de centro-esquerda baseada em desenvolvimento e justiça social com o apoio da classe política maranhense, transformando uma gramática política oligárquica de décadas e tangenciando a possibilidade de formulação de outras regras de articulação política.

Ao que parece, a paciência da classe política local com a música dinista chegou ao fim. Roberto Rocha foi o primeiro a deixar o barco, abraçou o bolsonarismo com unhas e dentes e está empenhado em eleger o líder nas pesquisas, Eduardo Braide. Weverton Rocha mostra que o municipalismo é a principal fortaleza do seu mandato, articulando diuturnamente a costura de apoios que o viabilizem como candidato a governador em 2022. Nossa avaliação é de que a aposta de Weverton foi arriscada ao sair na foto com o MDB, leia-se Roseana Sarney, num contexto tão peculiar como o que foi a sua eleição para o senado.

Por outro lado, a senadora Eliziane Gama mostra coerência com o acordo que a permitiu uma cadeira na câmara alta, apoiando o candidato do partido do governador, que (até o momento em que escrevemos este texto) não declarou apoio formal à candidatura, embora avaliemos que a depender do desempenho de Rubens Júnior nas pesquisas, Dino se verá diante da necessidade de apoiá-lo publicamente.

Paralelo a isto, um outro candidato também disputa ser impulsionado pela reputação política do governador, tendo apoio do vice Carlos Brandão (o que parece promissor) e o apoio de Josimar de Maranhãozinho (fica a cargo do leitor o julgamento) na tentativa de ganhar envergadura e fôlego. Estes elementos em um primeiro momento não parecem se conectar de maneira coerente e só o desenvolvimento da campanha vai evidenciar o melhor posicionamento.

A despeito do que pode acontecer na disputa propriamente dita, os atores da corrida eleitoral já se encontram posicionados e o tensionamento prévio, tão característico de grandes campanhas, logo vai ser substituído por uma efetiva disputa, de alta temperatura. Neste caso, não basta vencer a eleição, mas sim em que contexto se vence uma eleição, ou seja, qual o preço de vencê-la e quem está compondo a vitória.

Texto elaborado com o cientista político e professor Hesaú Rômulo

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