Pandemia e carestia retumbam o caráter sórdido do governo

Diante do aumento de casos de Covid-19 e da inflação, governo permanece inerte sem um plano de vacinação nacional ou prorrogação do auxílio

Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

A dura, difícil e duradoura realidade vivida pelos brasileiros no enfrentamento da Covid-19 parece pouco ou nada representar para o presidente Bolsonaro, o primeiro que deveria se sensibilizar para o verdadeiro calvário a que está submetida grande parte da população do país.

As notícias sobre o aumento dos casos de contaminação e de óbitos vêm de vários estados. Só para citar um caso dramático, 500 pacientes diagnosticados com o vírus ou com sintomas da doença estão na fila por um leito no Rio de Janeiro, sendo que a metade aguarda um lugar em UTI.

Inquietante é o fato de que dados do Censo Hospitalar indicam que há vários leitos bloqueados na rede SUS e um dos motivos alegados é a falta de médicos. Além disso, consta que 16 mil profissionais de saúde estão sem receber salários. Muitos deles trabalham nos hospitais Ronaldo Gazolla, em Acari, e de Campanha do Riocentro, ambos de referência no combate à Covid-19.

Enquanto isso, o governo continua fazendo corpo mole na definição de um plano nacional de vacinação, questão fundamental no momento para o enfrentamento da crise sanitária, diante da imensa dificuldade em estender a política de distanciamento social contra a qual o governo se opôs desde o início da pandemia ao minimizar suas consequências, sob o falacioso argumento de que a economia não poderia parar.

A reunião realizada no dia de ontem (8) entre o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e os governadores revelou mais uma vez a ausência de um plano nacional e uma resistência inaceitável às iniciativas dos gestores estaduais que, cumprindo obrigação para a qual foram eleitos e diante de uma pressão social inevitável, cobraram uma ação mais clara e efetiva do governo federal para garantir a vacinação contra a Covid-19.

A iniciativa do governador do Maranhão, Flávio Dino, de ingressar com uma ação junto ao STF com o objetivo de obter autorização para a compra de imunizantes já aprovados em outros países, é uma justa e necessária reação à inércia governamental ou, mesmo, negligência, em se tratando de saúde pública.

Diante desse quadro, pelo menos 11 governadores já iniciaram conversações com o governo de São Paulo e o Instituto Butantan para aquisição da vacina CoronaVac, produzida em parceria com o laboratório chinês Sinovac. A compra da vacina chinesa já vem sendo tratada com o governo paulista pelos governadores do Rio Grande Norte, Bahia, Ceará, Maranhão, Acre, Pernambuco, Paraíba, Pará, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul; além dos governadores de Porto Alegre, Salvador e Curitiba, que já manifestaram em suas redes sociais interesse pela vacina e confiança no Instituto Butantan.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, também se manifestou na mesma direção, ao pedir à Comissão Externa de Enfrentamento à Covid-19 que inclua a obrigatoriedade do governo federal comprar vacinas já aprovadas pelas agências dos Estados Unidos, União Europeia, Japão ou China na MP que autoriza o governo a aderir ao Covax Facility, aliança global para compra de vacina. “As pessoas vão começar a entrar em pânico se o Brasil ficar para trás nessa questão de ter um plano, uma estratégia clara e objetiva. É bom que isso seja feito com o governo. Eu disse já ao presidente Bolsonaro. Mas nós vamos avançar de qualquer jeito, até porque o Supremo também vai avançar. E acho que o melhor caminho é que se faça de maneira integrada entre Executivo, Legislativo e, depois, a decisão final do Supremo”, afirmou.

Mas não é apenas a pandemia que continua martirizando milhões de brasileiros. A carestia bateu forte no último mês de novembro no bolso dos mais necessitados quando a inflação foi a maior desse período em cinco anos por conta da disparada nos preços dos alimentos, entre outros itens considerados essenciais à sobrevivência humana.

O IPCA apurado pelo IBGE e usado como índice oficial apresentou alta de 0,89%. Em 12 meses, a alta foi de 4,31%. Com o resultado, a inflação já está acima do centro da meta para este ano, que é de 4%.

Segundo o IPCA, o maior peso na composição do índice de inflação veio dos alimentos. De janeiro a novembro, esse grupo de produtos cresceu 12,14%, com destaque para o óleo de soja  (94,10%), arroz (69,50%); batata-inglesa (55,90%), tomate (76,51%), carnes (13,90%), frango (14,02%), hortaliças e verduras (17,68%), pão francês (4,74%), ovo de galinha (9,47%) e frutas (17,49%).  Na sequência, tiveram maior peso na inflação dos transportes (1,33%) e os combustíveis: etanol (9,23%) e gasolina (1,64%).

Resumo da ópera: estamos diante de um governo que faz corpo-mole quando se trata da saúde e da vida dos brasileiros e que assiste de camarote à carestia galopante que mexe com o bolso dos mais pobres.

Estamos, enfim, diante de tudo, menos de um governo, seguramente, de um desgoverno, que faz da sordidez, como podemos ver nessas situações, o seu principal traço de caráter.

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