Para sempre Alice

O filme “Para Sempre Alice” consegue trazer para a tela a sensibilidade da atriz que vive a personagem demonstrando a força da mulher profissional, mas sua vulnerabilidade e deterioração

Filme "Para sempre Alice" | Foto: Divulgação

Passei por dias de recuperação de uma infecção de Covid (amenizada pelas quatro doses de vacina que tomei). Apesar de tudo, preocupante, por perceber o esquecimento repentino de pequenas tarefas alojadas em meu cérebro. Esses lapsos de memória me deixaram com alguma sensação de impotência e me fizeram recordar do filme Para sempre Alice (“Still Alice”). Protagonizado pela brilhante atriz Julianne Moore, que interpreta Alice Howland, doutora em Linguística, professora da prestigiosa Columbia University, uma conceituada profissional, que é diagnosticada com o Mal de Alzheimer, com apenas 50 anos de idade. Julianne recebeu diversos prêmios por sua destacada atuação, entre eles, o Oscar de 2015.

A película, dirigida por Richard Glatzer e Wash Westmoreland, é baseada no romance homônimo de Lisa Genoma, neurocientista, pesquisadora em neurociências em diversos hospitais e institutos importantes dos EUA, como o hospital geral de Massachusetts.

A narrativa se desenvolve mostrando os conflitos e os problemas sofridos por Alice, ao esquecer as palavras, fatos, lugares, mas nós, do lado de cá da tela, nos envolvemos na trama e torcemos por Howland, que aos poucos se desconstrói enquanto a doença gradualmente a consome e a transforma, como se morresse a cada dia para nascer outra pessoa, dependente, assustada e desconcertada. Perguntamo-nos como uma profissional ainda jovem aos 50 anos, com livros publicados, inúmeras conferências realizadas, com uma relação estável, filhos crescidos, pode a tal ponto ser afetada por esse tipo de demência degenerativa.

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Segundo o Dr. Drauzio Varela, o mal de Alzheimer (nome atribuído ao médico Alois Alzheimer, neurologista alemão que primeiro descreveu essa patologia) provoca progressiva e inexorável deterioração das funções cerebrais, como perda de memória, da linguagem, da razão e da habilidade de cuidar de si próprio. É um distúrbio cerebral irreversível e progressivo que afeta a memória e as habilidades de pensamento e, em alguns casos, a capacidade de realizar as tarefas consideradas simples. A doença acomete, principalmente, pessoas com mais de 60 anos, mas pode ocorrer em pessoas mais jovens, como no caso de Alice.

O site medicinasa.com.br/alzheimer-casos informa que a cada 3 segundos há no mundo um novo diagnóstico, tendo um crescimento de 10 milhões ao ano no mundo. No Brasil, temos 1,5 milhão de pessoas vivendo com essa doença. A estimativa desse estudo é que o número quadruplique nas três décadas futuras e ainda alertam acerca da subnotificação dos dados. Imagina-se quantas pessoas que dedicaram sua vida à criação de seus filhos, à construção da sociedade e encontram-se vivendo sob condições muitas vezes desumanas tanto pela falta do diagnóstico como pela incompreensão de familiares, considerando tanto a sobrecarga diária de trabalho, as dificuldades financeiras, agravadas no atual quadro de nosso país, pelo agravamento da doença que pode trazer sinais de irritabilidade e agressividade da pessoa portadora do Mal de Alzheimer. Essa condição pode atingir aproximadamente 36 milhões de pessoas no mundo, sendo que muitas das pessoas que dela sofrem ainda não receberam um diagnóstico. É uma doença que se agrava progressivamente até levar à morte, pois o corpo perde funções essenciais. Após o diagnóstico, o tempo médio de vida é cerca de 7 anos. Em média, apenas 3% das pessoas diagnosticadas sobrevivem mais do que 14 anos. (site: http://obviousmag.org/cotidiano/2015/para-sempre-alice—o-mal-de-alzheimer-nos-fazendo-repensar-a-vida.html).

Filme “Para sempre Alice” | Foto: Divulgação

O Conselho Nacional de Saúde divulgou nota que informa sobre a existência de uma proposta da Câmara dos Deputados que está em análise e que determina a criação da política de enfrentamento ao Alzheimer. “O projeto, de origem do Senado, prevê que os órgãos gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) deverão incluir, em um banco de dados, as notificações sobre ocorrências da doença”. Ainda explica que o objetivo da proposta é contribuir com a disseminação de informação clínica e apoiar a pesquisa médica. Fundamental o fortalecimento do Sistema Único de Saúde -SUS, para o atendimento precoce dessa doença e apoio a uma politica de cuidados.

O filme “Para Sempre Alice” consegue trazer para a tela a sensibilidade da atriz que vive a personagem demonstrando a força da mulher profissional, mas sua vulnerabilidade e deterioração. Comove a cada momento, produzindo em nós um sentimento de perda e de sufocamento, que são demonstrados em algumas cenas do filme com os lapsos de memória e a perda do controle do corpo, o afastamento do marido (Alec Baldwin) e a aproximação do relacionamento que tem com sua filha mais nova (Kristen Stewart).

Vimos que é necessário cultuar a paciência e a compaixão pelas pessoas que tanto nos amaram e dedicaram suas vidas. O roteiro traduz lições de amor e de luta pela superação, causa inquietude de pensamento e nos emociona constantemente. Muitos de nós podemos ser acometidos/as pela doença degenerativa, não apenas essa, mas por outras. Não há vacina, não há prevenção. O luto pela perda da pessoa querida nos chama ao cuidado e à dedicação pelas pessoas no presente.

“Quando não há mais certezas possíveis, só o amor sabe o que é verdade.“ (Do livro “Para Sempre Alice” – de Liza Genova)”. Lembrar ainda de Cora Coralina, quando diz: “Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.”

Referências:

http://obviousmag.org/cotidiano/2015/para-sempre-alice—o-mal-de-alzheimer-nos-fazendo-repensar-a-vida.html

https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/doenca-de-alzheimer/

http://conselho.saude.gov.br/ultimas-noticias-cns/2335-alzheimer-pl-defendido-pelo-cns-visa-criar-politica-de-enfrentamento-a-doenca

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