Política dos EUA de sanções e ameaças tem Israel no enredo

Enquanto consideram enviar armamentos sofisticados à Ucrânia, em seu trajeto recente de golpe, operação militar contra o leste e ascensão alarmante do fascismo, os EUA e a Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan) seguem declarando o retorno à Guerra Fria. 

De ações anacrônicas e retórica agressiva, o imperialismo concentra-se tanto no Oriente Médio quanto no leste europeu para berrar: “quem manda aqui sou eu”. Ficou para trás na busca de praticamente todo o resto do mundo – fora seus aliados e títeres – por alternativa, onde o direito internacional e a diplomacia realmente vigorem.

A possibilidade do envio de armas à Ucrânia segue a deixa do think tank (espécie de centro de pesquisa e formulação de políticas por vezes fiel ao poder) Instituto Brookings (o que neste caso se confirma) sobre a necessidade de os EUA, especificamente, “salvarem” o país. O mesmo instituto analisa frequentemente o curso da política presunçosa de sanções aos governos (embora ordens executivas e programas sejam apresentados como direcionados a indivíduos ou empresas) que procura pressionar, enquanto afaga condenados até por crimes de guerra, ou cujas ações determinam clima de tensão e instabilidade. No caso do leste europeu, se as sanções contra a Rússia não funcionam, que se atice a fogueira?

O início do ano trouxe a possibilidade de normalidade nas relações entre os EUA e Cuba, com a promessa, pelo presidente estadunidense Barack Obama, de trabalhar pelo fim do embargo à ilha revolucionária (apesar do Congresso neoconservador já ter garantido oposição), mas também segue impondo a lógica de ultimatos e, no mesmo discurso de Obama, das relações de “dissuasão” (eufemismo para “ameaça”). Com os dentes à mostra, esta é a face de uma arquitetura de política externa calculada para a expansão e manutenção da hegemonia norte-americana.

Exército ucraniano e rebeldes no leste – Fotos AFP

Qual foi a surpresa do anúncio do general Philip M. Breedlove, comandante militar da Otan, de apoio ao fornecimento de armas e equipamentos ao Exército ucraniano contra os que o jornal estadunidense The New York Times classificou, em matéria do domingo (1º/2), de “separatistas apoiados pelos russos”? Esta vem sendo a “realidade” construída paulatinamente pela mídia, sobretudo desde o golpe de fevereiro de 2014. Com os avanços dos EUA e aliados em direção à vizinhança e das associações da Otan para focar na provocação à Rússia, a culpa é sempre de Vladmir Putin. As máquinas da propaganda ocidentalista estão a todo vapor.

O mesmo vale para as políticas de sanções no modus operandi (junto com a ameaça belicosa ou a investida agressiva do seu capital) dos Estados Unidos contra os governos que não se afinam ao seu tom. A ajuda financeira e militar a Israel foi lançada pouco após sua criação e é promovida como “forma de apoiar a construção da paz” (mesmo durante a contínua limpeza étnica dos palestinos e as guerras contra vizinhos). Por outro lado, aqueles que não sustêm a agenda imperialista, como o Irã, a Coreia Popular, Síria e Cuba, merecem outro tratamento: sanções e ameaças.

Atualmente, a Divisão de Política e Implementação das Sanções Econômicas do Departamento de Estado norte-americano tem no alvo diversos países, em 26 “programas” da Divisão de Controle de Recursos Estrangeiros. Esta divisão é gerida pelo Departamento do Tesouro, de onde decolou David Cohen, apelidado pela CNN como o “guru das sanções”. Cohen acaba de ser nomeado por Obama (talvez como recompensa por uma política que só os EUA acreditam funcionar) para a vice-diretoria da Agência Central de Inteligência (CIA). Segundo o Washington Post, em artigo de 9 de janeiro, “desde 2011, Cohen liderou muitos dos programas mais agressivos do Departamento do Tesouro no exterior,” principalmente contra o Irã e a Rússia.

Qual é a surpresa, mais uma vez, da matéria no jornal israelense Jerusalem Post louvando Cohen como o “guru judeu das sanções” que estará na direção da CIA? O novelo se estende: um senador democrata dos EUA criticou o acosso do lobby israelense no Congresso por mais sanções contra o Irã (em detrimento da aparente pretensão de Obama de caminhar com as negociações sobre o programa nuclear persa) e o premiê israelense Benjamin Netanyahu foi convidado pelo presidente republicano da Câmara dos Representantes John Boehner para discursar a respeito, no Congresso, a contragosto de Obama, colocando analistas para colorir a tendência de estremecimento das relações entre os governos de Israel e dos EUA. Estremecimento pontual, certamente, pois a relação entre o sionismo israelense e o imperialismo norte-americano é simbiótica, retroalimenta-se.

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