Qual o significado da visita de Xi Jinping a Moscou?

A China busca não se deixar isolar pelos Estados Unidos e para isso procura fortalecer seus laços de cooperação com países com que tem interesses comuns.

Foto: Russian Pool

Praticamente toda a imprensa ocidental interpretou a visita de Xi Jinping a Moscou no final de março como um gesto calculado com o objetivo de demonstrar apoio ao presidente Putin na Guerra na Ucrânia e fortalecer a aliança entre China e Rússia em sua luta contra o Ocidente. Trata-se, contudo, de uma análise equivocada.

Para começar, a China não apoia a Rússia na guerra na Ucrânia e muito menos tem fornecido ou pretende fornecer equipamentos e munições para os russos. Em segundo lugar a China não está interessada em formar uma aliança anti-Ocidente, haja vista a recente visita do presidente francês Emmanuel Macron e da presidente da União Europeia, Ursula von der Leyen a Pequim. Deseja apenas não se deixar isolar pelos Estados Unidos e para isso procura fortalecer seus laços de cooperação com países com que tem interesses comuns.

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No caso específico da Rússia, é preciso lembrar que Rússia e China são países vizinhos que compartilham 4.250 quilômetros de fronteira, são membros do grupo Brics, da Organização para a Cooperação de Xangai e possuem laços de cooperação históricos. Nunca é demais lembrar que por ocasião da fundação de República Popular da China, em 1949, a ex-URSS foi fundamental para o início do processo de desenvolvimento do país. De 1953 a 1956, quando foi posto em marcha o Primeiro Plano Quinquenal de Desenvolvimento da jovem república chinesa, 156 projetos industriais foram iniciados com apoio da URSS, que oferecia treinamento massivo e assistência técnica com os seis mil consultores que havia enviado à China.

Quando, portanto, China e Rússia assinaram um novo acordo de cooperação econômica até 2030, em 18 de março último, por ocasião da visita do presidente Xi Jinping a Moscou e o presidente chinês declarou que China e Rússia são sócios estratégicos, nada mais fez do que reafirmar o óbvio, ou seja, duas grandes potências vizinhas têm muito a ganhar se mantiveram relações harmoniosas entre si, tal como ocorre, por exemplo, entre Estados Unidos e Canadá.

Quanto à guerra na Ucrânia, diferentemente dos Estados Unidos, que veem na perpetuação do conflito uma forma de desgastar a Rússia, a China deseja o fim mais rápido o possível do confronto. Por isso apresentou o plano de paz de 12 pontos, dos quais o primeiro é o respeito pela “soberania de todos os países” e por “sua integridade territorial”.  Afirmar, portanto, que a China estaria apoiando a Rússia em sua guerra contra a Ucrânia e até estaria considerando enviar armamentos para os russos é uma invencionice dos Estados Unidos e seus aliados da Otan, que na verdade não estão interessados em acabar a guerra, mas desgastar o máximo possível a Rússia, mesmo que isso custe a vida de mais alguns milhares de soldados ucranianos e russos.

Quanto à propalada aliança contra o Ocidente que a China estaria tentando costurar, na verdade o que ocorre é exatamente o oposto, ou seja, são os Estados Unidos que estão tentando expandir a Otan e sua lógica belicista para a Ásia com o objetivo de construir uma aliança militar contra a China.

Têm sido recorrentes as tentativas de produzir falsas narrativas a respeito da China para justificar as agressões que têm sido feitas contra o país asiático, com o objetivo de obstar seu esforço de desenvolvimento. Aliás, não é de hoje o costume de observadores ocidentais de olhar a China como uma imagem distorcida de seus próprios países, de modo que aquilo que falam da China diz mais de si próprios do que da própria China. O historiador americano, Jonathan Spence – autor de clássicos como “Em Busca da China Moderna”, com tradução em português e o “O grande continente do Khan – A China nas mentes ocidentais”, ainda sem tradução –  chama atenção para o fato de que as narrativas de Marco Polo sobre a China, em seu livro de memórias – As Viagens de Marco Polo –  pareciam ter mais em comum com sua nativa Itália do que tinha com a realidade da China do seu tempo e pergunta a respeito de sua descrição: “É realmente a China ou uma imagem invertida de Veneza?”.

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Em livro recentemente publicado pelo economista norte-americano Stephen Roach –  Accidental Conflit. America, China and the Clash of False Narratives – o autor chama atenção para o fato que em grande medida o conflito Estados Unidos – China se dá por causa de falsas narrativas que os norte-americanos criaram em relação à China, as quais decorrem da tentativa de olhar a China como uma imagem distorcida de si próprios. A afirmação, portanto, de que a China apoia a Rússia na guerra da Ucrânia é apenas mais uma das falsas narrativas criadas pelos Estados Unidos para alimentar a animosidade da população americana e mundial contra a China e assim justificar sua política belicista.

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