Harriet, coragem e ousadia diante da tirania escravagista

Tubman nasceu escravizada, e por toda a sua juventude foi marcada pelo sofrimento, opressão e desumanidade

Filme "Harriet" | Foto: Divulgação

Retomando a elaboração de resenhas dos filmes que mais tem impactado minha vida militante e me encorajado a resistir diante de um cenário anti-civilizatório, o filme Harriet, assistido após uma pausa das eleições do primeiro turno em nosso país, me trouxe força para enfrentar a realidade e conhecer um pouco a história de Harriet Tubman. Chamada de “Moisés negro” (Moses) por sua luta e enfrentamento à escravização nos Estados Unidos, ela foi uma ativista norte-americana nascida escravizada no condado de Dorchester, Maryland, onde organizou e participou de 19 missões para resgatar cerca de 300 pessoas, incluindo familiares e amigos. Nessa caminhada encontrou uma rede de ativistas antiescravatura e abrigos por onde retomava as expedições para sua luta de liberdade. Também foi ativista pela causa do sufrágio feminino. Aliás, a história tenta fazer o apagamento da participação de mulheres negras nessa luta politica feminista.

A película dirigida pela cineasta, atriz e diretora estadunidense Kasi Lemmons, trata da vida de Araminta Ross, interpretada pela atriz e cantora Cynthia Erivo, que o faz de forma contundente ao interpretar a corajosa e destemida Harriet.

Araminta, que recebeu o nome de Harriet Tubman, nasceu por volta de 1820 (já que seus pais não sabiam ao certo o dia e ano de seu aniversário), em uma fazenda em Dorchester County, no estado de Maryland, Estados Unidos. Em sua juventude, era chamada pelo apelido Minty. A mãe de Harriet era escrava da família Brodess, sendo propriedade, primeiro, de Mary Brodess, depois pelo filho Edward Brodess (Joe Alwyn). Assim, Tubman nasceu escravizada, e por toda a sua juventude foi marcada pelo sofrimento, opressão e desumanidade.

Harriet Tubman | Foto: Reprodução

Quando a jovem é colocada à venda por Gideon Brodess, filho do senhor Brodress, o patriarca senhor dos escravos, que de forma perversa pratica grande dominação e sadismo em Harriet, ela decide fugir demonstrando coragem e destemor mesmo diante da fúria do escravizador. Em sua trajetória Harriet é acometida por desmaios e por visões, fenômenos que ela atribui a premonições de Deus e que no filme a acompanham em sua corajosa missão de libertação dos escravizados. Essas visões são explicadas por Harriet a um abolicionista, quando de sua fuga e encontro com a liberdade, é convidada a integrar o movimento de luta pela abolição. Ela relata que desde os 13 anos de idade passou a ter visões, ao tentar proteger seu irmão menor da fúria do algoz, é golpeada com uma barra de ferro na cabeça pelo seu senhor deixando-a por meses desacordada. Tubman foi espancada e açoitada por seus vários senhores durante a infância, suas costas aparecem marcadas por profundas cicatrizes.

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A atriz que interpreta Harriet incorpora uma personagem forte e corajosa que persegue seu maior intento de buscar o rompimento da dominação do colonizador. Sua inocência própria da juventude é transformada em mulher de grande bravura e incansável busca pela libertação de seu povo. A fotografia do filme é lindissima, bem como a leveza que a diretora consegue transmitir pelas músicas cantadas como forma de comunicação entre Harriet e seu povo. Repetidas vezes podemos apreciar na bela voz de Erivo com suas belas entoações de blues, um verdadeiro clamor à emancipação dos escravizados.

Os Estados Unidos aboliram a escravidão em 18 de dezembro de 1865, por meio da 13ª Emenda à Constituição, acabando com um dos maiores sistemas de produção escravistas registrados pela História. Decisão do então presidente Abraham Lincoln que, segundo registro histórico, já havia assinado a Proclamação de Emancipação, que concedeu liberdade aos escravizados. No entanto, alguns estados daquele país tinham autonomia para continuar o seu dominio como proprietários e realizando todo tipo de crueldade, como no caso do Estado da Virginia onde a lei não era cumprida.

Harriet Tubman é considerada uma das mais famosas americanas da história. Uma mulher determinada e destemida que influenciou centenas de homens e mulheres para romper com a dominação cruel a qual eram submetidos. Um filme imperdível que busca referenciar e propagar a intensidade da vida da protagonista, marcada por força, resistência e uma incansável luta pela emancipação.

  • Harriet: lançamento pela netflix em 22 de setembro de 2020
  • Direção: Kasi Lemmons
  • Elenco: Cynthia , Leslie Odom Jr. Joe Alwyn
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