Relação “pragmática” de Biden com o Brasil é na prática aliança com Bolsonaro

Chega ao Brasil nesta quinta-feira (5) a delegação de alto nível dos EUA que vai tentar banir 5G chinês do mercado brasileiro

Fotomontagem feita com as fotos de: Leah Millis/Reuters; Nicholas Kamm/AFB e Evaristo Sá/AFP

Chefiada pelo conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, chega nesta quinta-feira (5) ao Brasil uma delegação de quadros de primeira linha do governo Joe Biden para negociar diretamente com o governo de extrema direita de Jair Bolsonaro os interesses rapaces do imperialismo estadunidense em relação ao nosso país, que pretendem continuar dominando, e principalmente conquistar adesão plena aos objetivos geopolíticos estratégicos da superpotência norte-americana.  

A delegação norte-americana deve ser recebida por Bolsonaro e está instruída a não abordar os temas considerados sensíveis, tais como o caráter de extrema direita e neofascista do governante brasileiro, suas ligações com a extrema direita trumpista e sua visão e comportamento em favor da devastação ambiental, que por sinal antagonizam os  valores defendidos por Biden na cúpula do clima realizada no início do seu mandato. 

O enviado de Biden se encontrará também com o chanceler Carlos França, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, o ministro da Defesa, Braga Netto, que fez explícitas ameaças golpistas e é alvo de denúncias na CPI da Covid-19, e o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, um dos mais ferrenhos defensores do militarismo e das posições de direita do governo Bolsonaro. Também o secretário especial de Assuntos Estratégicos, Flávio Rocha, está escalado para receber os emissários do imperialismo estadunidense.

Trata-se de uma missão estratégica de interesse direto da Casa Branca, reveladora da importância da cartada que está sendo jogada.  Apenas uma visita presidencial seria mais relevante do que esta. 

Jake Sullivan, Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, se encontra com Bolsonaro I Foto: Embaixada dos EUA

O foco desta primeira missão de alto nível da Casa Branca desde a posse de Joe Biden é o enfrentamento à China e o banimento do 5G chinês do mercado brasileiro. Em declarações ao jornal O Globo, que abriu manchete para a chegada da missão americana, o ex-embaixador Thomas Shannon afirmou a importância estratégica que nosso país tem para os EUA e que o leilão do 5G ocupa uma posição prioritária na agenda americana, sendo central a chamada questão China.  É o que transparece também de todas as informações de bastidores que antecederam a visita. 

Em nome desse objetivo, Joe Biden está disposto a comprar briga com os setores de seu partido e de correntes progressistas da sociedade estadunidense que prefeririam ver o governante que ajudaram a eleger tomando distância do tiranete que ocupa o Palácio do Planalto e sofre a rejeição de mais de 60% dos brasileiros, conforme pesquisas de opinião pública, e é rechaçado em manifestações de rua. 

A cartada bolsonarista de Biden só pode ser compreendida no contexto de sua política externa global. Seu objetivo central é conter a ascensão da China, potência emergente, cuja economia tende a ser a primeira do mundo e cujo protagonismo no cenário internacional é tido como uma ameaça aos interesses vitais do imperialismo estadunidense e seus aliados. 

Foto: Kevin Lamarque/Reuters

Diferentemente desses interesses vitais, que só podem ser defendidos intensificando o exercício do hegemonismo, a China, com sua política de promoção do desenvolvimento compartilhado e do autêntico multilateralismo, propugna uma ordem internacional democrática, cuja realização está diretamente ligada ao exercício da  autodeterminação das nações e à verdadeira cooperação global. 

É essa disjuntiva que leva o governo Biden a partir para uma espécie de vale-tudo em sua política de alianças. É a chave para decifrar o sentido da palavra “pragmatismo” usada pela diplomacia americana para definir o caráter da missão ao Brasil e sua aliança na prática com o governo de extrema direita de Jair Bolsonaro. 

Isto deveria servir como alerta às forças democráticas e progressistas brasileiras para que não se iludam no foco da sua ação e entendam que os inimigos da democracia no mundo não são Xi Jinping nem Vladimir Putin. Na eventualidade do retorno dessas forças ao governo, o Brasil deve retomar o rumo de sua política externa altiva e ativa dos tempos de Lula e Dilma, que só foi possível porque reconheceu quais eram as alianças que favoreciam os interesses nacionais e a justa inserção do país no cenário global. 

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