Rússia X Ucrânia: esse jogo não é um a um

O problema é saber onde está uma posição justa, que não acompanhe a ideologia e política de Putin, nem lhe desconheça as razões de invadir a Ucrânia

Foto: Sputnik / Vitaliy Timkiv

O título com a frase “esse jogo não é um a um” vem da ótima composição Um a Um, cantada por Jackson do Pandeiro:  

“Esse jogo não é um a um 
(se o meu clube perder é 
zum-zum-zum) 
Ah, olhe o jogo não é um a um 
(se o meu clube perder é 
zum-zum-zum) 
 
O meu clube tem time de primeira 
Sua linha atacante é artilheira 
A linha média é tal qual uma barreira 
O center-forward corre bem na dianteira 
A defesa é segura e tem rojão 
E o goleiro é igual um paredão 

Esse jogo não é um a um 
(se o meu clube perder é 
zum-zum-zum) 
Mato um mas o jogo não é um a um 
(se o meu clube perder é 
zum-zum-zum) 
 
É encarnado e branco e preto 
É encarnado e branco 
É encarnado e preto e branco 
É encarnado e preto…”  

Mas se assim é o título, assim não é a dificuldade em que a gente se encontra nessa nova guerra. O problema é saber onde está uma posição justa, que não  acompanhe a ideologia e política de Putin, nem lhe desconheça as razões de invadir a Ucrânia. Difícil. As notícias pela televisão, com seus liberais comentaristas, nos deixam como pets domésticos de Joe Biden. Então eu pesquiso e leio na BBC News uma possível origem da invasão:  

“Putin afirmou que a Ucrânia é uma marionete do Ocidente e nunca foi um Estado adequado. Ele exige garantias de que a Ucrânia não se juntará à Otan, uma aliança militar de 30 países, e para que a Ucrânia se desmilitarize e se torne um Estado neutro…  

Ele quer uma promessa sustentada legalmente de que a Otan não expanda além de sua composição atual. ‘Para nós, é absolutamente mandatório garantir que a Ucrânia nunca, jamais se torne um membro da Otan’, disse o vice-ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Ryabkov. 

Putin reclamou que a Rússia ‘não tem mais para onde recuar — eles acham que vamos simplesmente ficar sentados?’ “. 

Foto: Sergei Guneev/Sputnik

Mas isso é apenas mencionado com ares da maior neutralidade, porque se inscreve entre razões majoritárias de condenação ao governo russo. Então eu vou ao People’s World e descubro uma razão justa https://www.peoplesworld.org/article/what-is-the-minsk-agreement-and-whats-its-role-in-the-russia-ukraine-crisis/ (Tradução do Vermelho): 

“Sob pressão de ultranacionalistas e russófobos, sucessivos governos na Ucrânia não conseguiram resolver as queixas da maioria de língua russa na região de Donbass. A Ucrânia também não implementou as disposições do Acordo de Minsk assinado em 2015 para pôr fim ao conflito na região. 

A situação na Ucrânia hoje pode ser atribuída em grande parte à ascensão dos grupos ultranacionalistas e russófobos que obrigaram o então presidente ucraniano Viktor Yanukovich a renunciar durante os protestos “Euromaidan” em Kiev, em fevereiro de 2014. 

Ucranianos com a suástica do “Batalhão de Azov”, organização paramilitar neonazista ligada ao Ministério do Interior ucraniano desde 2014, no braço I Foto: Reprodução

Os manifestantes pediram que Yanukovich seguisse políticas favoráveis à integração com a UE e a Otan, mesmo à custa de prejudicar os laços tradicionais da Ucrânia com a Rússia. Este mesmo conjunto de grupos políticos ultranacionalistas e russofóbicos tem dificultado a implementação do Acordo de Minsk por sucessivos governos ucranianos”. 

Ou então aqui, em outro texto do People’s World https://peoplesworld.org/article/pipeline-ploy-how-u-s-natural-gas-interests-are-fueling-the-ukraine-crisis/:   

“Como os interesses do gás natural dos EUA estão alimentando a crise na Ucrânia  

Junto com a tentativa de absorver militarmente a Ucrânia na Otan, outro fator importante que está se tornando mais aparente no incessante discurso da administração Biden sobre guerra com a Rússia é o desejo dos produtores de energia americanos de invadir os mercados europeus com gás natural fragilizado. 

Embora a grande imprensa esteja saturada com a conversa sobre um ataque para sempre da Rússia à Ucrânia e especule sobre o suposto desejo de Moscou de congelar a Europa cortando o fornecimento de gás, poucos repórteres na mídia corporativa estão perguntando quem ganha economicamente com o impasse no leste. 

Empresa estatal russa de produção de gás, Gazprom | Foto: Reprodução

No entanto, juntando algumas peças do quebra-cabeça, alguns vencedores claros começam a emergir na crise da Ucrânia, quer haja ou não uma guerra real: corporações multinacionais de gás e petróleo. E parece que sua indústria encontrou o porta-voz mais poderoso do mundo para representar seus interesses – o governo dos Estados Unidos. 

Empresas como Chevron, ExxonMobil e Shell, juntamente com as centenas de empreiteiras de perfuração e transporte marítimo que trabalham com elas, querem intensificar massivamente as exportações para uma Europa faminta por gás, mas quem está no caminho é a Rússia e sua empresa estatal Gazprom. Atualmente, o gás natural russo responde por mais de 30% de todas as importações para a União Européia. As principais potências da UE, Alemanha e França, recebem 40% de seu gás da Rússia, enquanto alguns outros países, como a República Tcheca e a Romênia, utilizam apenas gás russo”. 

Essas as razões sérias, graves, da guerra.  

E eu, que pensava em escrever sobre Rússia x Ucrânia a partir de uma gozação com a visita ridícula de Bolsonaro a Putin. Menciono apenas  trechos de A incrível conversa entre Bolsonaro e Putin, que eu escreveria:  

“Conversar não é um dom de Bolsonaro. Ele não conversa, ele fala piadas baixas de botequim e frases de menosprezo e desprezo contra negros, mulheres e gays. Mas há que manter as aparências em encontros internacionais. Olhem, com Putin ele se esforçou.  

Declaração de Bolsonaro ao sair: ‘O encontro com Putin durou aproximadamente 2 horas. Tivemos até momentos de muita informalidade, certas particularidades’.  Mas não especificou quais, e adianto aqui, da “conversa” informal:  

Putin – Eu sou muito macho.  

Excitado,  Bolsonaro ordena para o tradutor:  

– Pergunta se o dele é grande!  

Tradutor – Presidente, não fica bem… 

Bolsonaro – Pergunta! Estou mandando! 

E o tradutor: 

– Is yours a big one? 

Ao que Putin responde: 

– Medium. But it works. 

E Bolsonaro responde  

– Mi-tu!”  

Como veem, foi melhor pesquisar. Ainda bem que despertei a tempo para a gravidade do conflito e não prosperei no ridículo. Venceu a realidade, enquanto a mentira da guerra continua nas notícias da televisão. 

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