Subserviência fora de tempo e de lugar

A herança diplomática e comercial dos anos Lula-Dilma, em que se praticou uma política externa ousada, independente e flexível, pouco a pouco vai se desfazendo

Fotomontagem feita por Artur Nogueira com as fotos de: Alan Santos/PR e Monstera/Pexels



Tem sido assim ao longo da História: nações minimamente ciosas dos seus próprios interesses valem-se de contradições entre potências conflitantes para tirarem proveito e dar passos adiante em projetos nacionais.

No ambiente da Segunda Guerra, Getúlio Vargas operou com habilidade em meio ao conflito entre aliados versus nazi fascismo. Avançou na construção de infraestrutura industrial estratégica para o Brasil. A Companhia Siderúrgica Nacional e a própria Petrobras são subprodutos dessa postura.

Bolsonaro, inspirado por um misto de complexo de vira-latas com servilismo ideológico, há três anos move-se na cena internacional a partir do alinhamento automático com os EUA.

Ora, o mundo gira — e vive uma tensa transição a uma nova ordem multipolar, em que se acentua justamente o declínio relativo dos EUA e a ascensão de novos polos de influência.

Uma janela de oportunidades para a consecução de um projeto nacional de desenvolvimento, calcado fundamentalmente em nossos próprios interesses – que o governo Bolsonaro não enxerga ou que a ela propositadamente renuncia.

Concomitantemente, a herança diplomática e comercial dos anos Lula-Dilma, em que se praticou uma política externa ousada, independente e flexível, pouco a pouco vai se desfazendo.

Hoje, a presença do Brasil no BRICS é quase formal, burocrática.

Mesmo as relações comerciais privilegiadas com a China – atualmente nosso principal parceiro comercial – vem sendo bombardeada com certa frequência.

Em decorrência, além de perdas objetivas, o Brasil abandona o destaque que havia alcançado nos fóruns mundiais multilaterais.

O isolamento de Bolsonaro no recente encontro do G20 é exemplar.

E a condição de vilão na COP 26, que se realiza agora em Glasgow, consolida nosso papel de pária, vergonhosamente marginalizado do real jogo de forças.

Nesse contexto, mostra-se oportuno o destaque dado nas diretrizes para uma plataforma emergencial de reconstrução nacional, ora em debate pelo PCdoB, à retomada de uma política externa independente, onde se possa explorar beneficamente relações internacionais amplas, acordos de cooperação tecnológica, parceria estratégica com a China e com países do BRICS e, por essa via, fomentar condições para o desenvolvimento nacional independente.

Este é um dos desafios do novo pacto político e social a emergir de uma vitória das forças populares e democráticas no pleito do ano vindouro.



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