Todas as pedras se movem

Para compreender a tensa e complexa situação brasileira dos nossos dias o que menos ajuda são avaliações precipitadas.

Praça dos Três Poderes I Foto: Jornal de Brasília

Para compreender a tensa e complexa situação brasileira dos nossos dias o que menos ajuda são avaliações precipitadas.

Em momentos de maior dificuldade de Bolsonaro, às voltas com problemas em geral criados pelo próprio e em crescente isolamento político, não são poucos os que se apressam em proclamar que o presidente “subiu no telhado”.

Por esse raciocínio, o presidente estaria na iminência de ser afastado por um impeachment ou por outra solução institucional pactuada com a presença do Congresso e do STF.

No outro extremo, bolsonaristas esperançosos e oposicionistas pessimistas enxergam na possibilidade de uma retomada da economia e de um incerto arrefecimento da pandemia, na esteira da vacinação ampliada, o presidente estaria na iminência de recuperar prestígio e apoios que o capacitariam a uma hipotética reeleição.

Nem uma coisa, nem outra.

Sempre é indispensável considerar o conjunto das variáveis em presença, o evolver das contradições e os movimentos táticos do atores mais influentes.

Por exemplo, a tese da frente ampla oposicionista está consolidada?

Em parte sim, em parte não.

A realidade objetiva e a evidência de uma correlação de forças ainda adversa parecem influenciar o comportamento de uns que se convencem, pela prática, que fracionadas as oposições não podem almejar muito.

Outros, que só admitem uma ampla coalizão de forças sob a sua hegemonia, teimam em adiar alianças mais heterogêneas para um hipotético segundo turno do pleito presidencial e persistem em cotoveladas em eventuais concorrentes do mesmo campo.

Já entre os que se desiludem com o presidente em razão da sua notória incapacidade para governar e de suas diatribes contra o regime democrático, porém apostam na agenda neoliberal tupiniquim é recorrente a expectativa de que seja possível uma espécie de força-tarefa capaz de enquadrar o presidente e reconduzi-lo ao cargo para um novo período de menos insensatez e algum resultado concreto.

Sonhar não é proibido, como também ninguém pode impedir que esta ou aquela força política cometa seus desatinos. Entretanto, quem quiser alterar os rumos da peleja há que refletir e agir “com as quatro patas fincadas na realidade”, como dizia o revolucionário russo Plekhanov.

Para as oposições, um bom fio condutor pode ser uma plataforma eleitoral que aponte novo rumo para o Brasil pós-governo Bolsonaro.

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