Um ciclo de debates sobre a Palestina ocupada e resistente

Há exatamente um mês, a Comissão Independente de Inquérito das Nações Unidas, mandatada pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, apresentava seu relatório sobre a escalada da violência na Palestina, em 2014. 

Um ciclo de debates, exibições e uma instalação final, organizado pelo núcleo de São Paulo do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), propõe a discussão e divulgação da situação na Palestina ocupada hoje, com intuito de reforçar a solidariedade ao povo palestino por seu Estado livre e em paz.

O momento é o de aniversário da terceira ofensiva israelense contra a Faixa de Gaza em cinco anos, que em 51 dias resultou nas mortes de mais de 2.200 palestinos (1.462 civis) e mais de 70 israelenses (seis civis). O documento da Comissão de Inquérito, instalada ainda em julho de ano passado pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, apontou a consistência das denúncias de crimes de guerra cometidos durante a ofensiva contra Gaza e contra a Cisjordânia, entre junho e agosto.

No caso dos palestinos, de acordo com a investigação, entre os civis mortos estavam 551 crianças. Num depoimento emocionado, um porta-voz experiente da Agência das Nações Unidas para Assistência e Trabalhos para Refugiados da Palestina (UNRWA), em Gaza, disse que a humanidade deveria envergonhar-se do que acontecia no território palestino sitiado desde 2007.

Chris Gunness chocou meios de comunicação acostumados com declarações frias das autoridades ou representantes de organizações internacionais para falar de massacres, pois Gunness emocionou-se ao falar das “crianças que morreram enquanto dormiam”, buscando abrigo em escolas da UNRWA, também atingidas pelos bombardeios israelenses.

“Os direitos dos palestinos, até mesmo das crianças, são completamente negados, e isso é estarrecedor”, disse o porta-voz à rede Al-Jazeera, quando chorou diante da câmera. Gunness estava abalado pelo bombardeio israelense do dia anterior, que matou mais de 15 dos 3.300 palestinos que se abrigavam numa escola da UNRWA no campo de refugiados de Jabalia, ao norte de Gaza.

A juíza estadunidense Mary McGowan Davis disse, em 22 de junho passado, quando anunciava os resultados da investigação da ONU: “O impacto da devastação e do sofrimento em Gaza  foi inédito e afetará as gerações futuras”. Este era o resultado de mais de seis mil ataques aéreos de Israel e aproximadamente 50 mil morteiros lançados de tanques e artilharia.

O documento é repleto de testemunhos colhidos pela comissão através da Internet ou de entrevistas em Amã, na capital da Jordânia, uma vez que as autoridades israelenses negaram aos investigadores o acesso à Faixa de Gaza. Ao menos 142 famílias perderam três ou mais membros e dezenas foram completamente dizimadas.

A Comissão, assim como organizações de defesa dos direitos humanos e movimentos sociais solidários à causa palestina pela libertação, a autodeterminação e a paz, denuncia a impunidade israelense como uma determinante na repetição do ciclo de violência e na manutenção da ocupação, que na Cisjordânia também faz suas vítimas diariamente.

Nesse outro fragmento de território palestino ocupado – e assim mantido, fragmentado, deliberadamente – as forças israelenses ou os colonos mataram quase 30 palestinos entre junho e agosto de 2014. O aumento do uso de munição letal pelas forças da ocupação e a violência dos próprios colonos israelenses contra os palestinos atingiram picos desde que, em junho de 2014, três jovens colonos foram sequestrados e depois encontrados mortos. O governo israelense deu impulso a mais um episódio do que o direito internacional condena como “punição coletiva” dos palestinos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Além dos 30 mortos, mais de três mil palestinos foram feridos em confrontos com as forças israelenses e cerca de mil foram presos neste período.

Atualmente, mais de seis mil palestinos  estão detidos em cárceres israelenses, o que torna a sua luta pela libertação central para a causa palestina. Sua detenção é frequentemente contrária ao direito internacional, em períodos de seis meses renováveis, sem acesso à justiça ou sem acusação formal. Mais de 400 palestinos – inclusive crianças e parlamentares eleitos – estão detidos sob esta categoria denominada “administrativa”, instituída ainda durante a colonização britânica da região.

O muro de 800 quilômetros de extensão, com oito a 12 metros de altura, capturando ainda mais porções da Cisjordânia – mas não sem resistência popular e organizada – e a construção de colônias israelenses em territórios palestinos – algumas, verdadeiras cidades, com infraestrutura e segurança – definem o que é a ocupação da Palestina hoje. Outros aspectos, como o roubo dos recursos aquíferos e das terras agricultáveis palestinas e a imposição de estritas limitações à movimentação – com postos de controle militar, o muro e regulações específicas para os palestinos – também evidenciam a segregação, tanto na Palestina ocupada quanto em Israel, onde 20% da população é palestina.

Finalmente, é para abordar essa violência estrutural que o Cebrapaz organiza o ciclo “Ocupação e Resistência na Palestina”, com o intuito de apontar como a impunidade israelense permite a repetição de massacres e impede o estabelecimento do Estado da Palestina livre, independente e em paz.

Veja aqui informações sobre o debate inaugural da programação, que se estende de 22 de julho a 26 de agosto.

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