Um empate que ainda favorece o adversário

Não basta empatar, é preciso impedir que o adversário use de seus poderes institucionais para seguir jogando à sua maneira e conforme seus desígnios.

Bolsonaro não consegue satisfazer quase setenta por cento da população (cálculo otimista com base nas últimas pesquisas), que tende a engrossar o caldo oposicionista.

A oposição, assim constituída, se apoia nuns trinta por cento da população que adota postura mais ativa (cálculo também aproximado).

Outros quase quarenta por cento dos insatisfeitos não gosta do governo, mas ainda não enxerga alternativa. Sequer sabe o que a oposição propõe.

Assim, o jogo segue empatado e nenhum dos oponentes consegue fazer gols.

Errado.

Tudo bem que os dois times estejam na retranca, mas um deles – o governo – é o dono da bola e, nem tanto à sorrelfa, abertamente faz gols que contam para a sua agenda dita ultraliberal.

O novo marco do saneamento é um gol recente. O presidente o sancionou ontem.

Esse é o drama.

Não basta empatar, é preciso impedir que o adversário use de seus poderes institucionais para seguir jogando à sua maneira e conforme seus desígnios.

É aí que se mostra equivocada a tática de parte da oposição, situada mais à esquerda, que imagina um governo derretendo gradativamente num ambiente social e político que, mais dois anos e meio à frente, abrirá espaço para uma nova vitória das forças populares, o PT à frente.

Muito esquemático para caber na realidade concreta – que é mais dinâmica e terrivelmente contrária às necessidades e aspirações da maioria da população e, de quebra, ainda corroi as salvaguardas da soberania nacional.

Mesmo sem o ritmo e a intensidade desejada, o governo Bolsonaro segue fazendo seus estragos.

A parte mais consciente, digamos, da oposição, que se amplia para além de partidos e já agrega segmentos diversos da sociedade, tem diante de si, a tarefa imediata de conquistar o apoio dos mais de trinta por cento insatisfeitos, porém semiparalisados.

Um movimento amplo, ativo e continuado de defesa do Estado Democrático de Direito e de salvação nacional pode repor a bola em jogo e passar à ofensiva.

Se tiver base de massas.

E essa base pode ser conquistada através de um Plano Emergencial em defesa da vida, de socorro à população mais empobrecida – mantendo a ajuda emergencial de R$ 600 – e da retomada da economia nacional, apoiando as micro, pequenas e médias empresas, essenciais à geração de empregos e realizando investimentos públicos em infraestrutura que alavanquem as atividades industriais.

Em contraposição ao receituário de Bolsonaro-Guedes, tais medidas haverão de ser sustentadas pelo Banco Central mediante a compra de títulos do Tesouro.

Eis um bom mote para o debate e para impulsionar a ampla frente oposicionista e alterar a correlação de forças.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *