Um olhar apaixonado, engraçado e histórico sobre Frida

O Portal Vermelho estreia sua segunda coluna temática, depois da lançar uma sobre a experiência educacional do Maranhão. Dessa vez sobre histórias em quadrinhos e que também será assinada por diversos autores. Nesta primeira edição temos um texto de Thiago Modenesi.

Pintamonos (Quadriculando/Anita Garibaldi, 2021) é daquelas histórias em quadrinhos que prende sua atenção do começo ao fim. Com roteiro de Rodolfo Santullo, mexicano naturalizado uruguaio, e desenhos do argentino Leo Sandler, a HQ apresenta em seus quatro capítulos um olhar sobre os principais expoentes do movimento artístico muralista mexicano e do partido comunista daquele país.

Somos convidados a uma revisão histórica bem-humorada sobre uma corrente artística que marcou os anos 30 e 40 do século XX no México, conhecida por contar com expoentes como Frida Kahlo, Diego Rivera e David Siqueiros e pelas discussões ideológicas que tiveram entre si em plena Revolução Russa e no apogeu das correntes socialistas e revolucionárias em várias partes do mundo.

Santullo nos apresenta uma obra rigorosamente histórica, indo do humor ao drama amoroso. O livro reúne 4 HQs curtas, abordando nuances e fatos sobre um prisma nunca explorado nas suas quase 80 páginas, em preto e branco.

O livro começa com “Duelo em Ixtacalco” que nos apresenta o duelo com armas entre os artistas Diego Rivera e David Siqueiros logo após uma tentativa fracassada de atentado pelo segundo, que buscava assustar Leon Trotsky (esse estava exilado em uma das casas de Rivera, desde que foi expulso da União Soviética). Um relato cômico e ágil sobre um episódio bastante curioso da vida de ambos os artistas.

Na sequência, somos brindados com “Investigação em Coyoacan” que coloca Frida Kahlo no centro da trama após o assassinato de Trotsky, aqui temos uma versão livre e bem-humorada do que pode ter acontecido, um novo olhar nesse fato histórico que, com certeza, fará os que lerem rir muito!

A terceira HQ é “Mural em Don Torquato” que coloca em dúvida as opções ideológicas de Siqueiros ao aceitar um trabalho de um expoente capitalista para pintar um grandioso mural em sua casa. Santullo nos apresenta um roteiro inteligente que mescla o drama e o amor com um fato histórico pouco explorado até o presente. O livro conclui com “Velório no Centro Histórico” sobre o funeral de Frida Kahlo, esse capítulo funciona como um epílogo das histórias criadas e personagens retratados no livro.

A arte da história em quadrinhos em si é algo diferenciado! Leo Sandler nos apresenta desenhos belíssimos com gestos e sentimentos exacerbados, que reforçam o sentimento de humor irônico da obra, explorando ao máximo o uso das técnicas do preto e branco.

Mas, com certeza, quem lê o título se pergunta: por que “Pintamonos”?

Essa é uma expressão, à princípio pejorativa, com a qual se referiam aos pintores mexicanos no começo do século XX, comparando-os com desenhistas de jornais de perfil – em tese, algo inferior. “Moneros” é o termo com o qual caricaturistas e desenhistas daquele país se definem até hoje – por pintar “monitos” ou desenhos simples. Como já aconteceu com outras palavras, a expressão foi do insulto à apropriação orgulhosa do termo.

Tome uma boa tequila, coloque uma música mexicana no seu som e acomode-se em sua poltrona mais confortável para aproveitar ao máximo essa premiada história em quadrinhos e toda a sensibilidade e empatia capturada nos traços de Leo e no roteiro de Rodolfo.

Thiago Modenesi é licenciado em História, Especialista em Ensino de História e Ciência Política, Mestre e Doutor em Educação, é professor e pesquisador sobre charges, cartuns e histórias em Quadrinhos e editor do selo de histórias em quadrinhos Quadriculando, além de presidente do PCdoB em Jaboatão dos Guararapes/PE e colunistas do Portal Vermelho.

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