Um vídeo revelador

Aos que assistiram o ídeo, ficou claro que o presidente queria trocar o comando da Federal no Rio de Janeiro pra proteger sua família e amigo

Clima tenso na reunião do ministério l Foto: Marcos Corrêa/PR

A reunião ministerial do dia 22 de abril último, gravada em vídeo, virou altamente reveladora sobre o nível do governo que toma conta do País, acima de qualquer outro impacto que provoque. As manifestações do presidente da República e de seus ministros, às vezes aos gritos e com palavrões, revelam algo como uma gang de bandidos enfurnada em algum esconderijo tenebroso, em lugar de uma sala bem ajeitada do Palácio do Planalto, onde de fato estavam.

É certo que o interesse maior em torno da gravação estava nas revelações que o presidente faria sobre sua ingerência nas atividades da Polícia Federal, motivo pelo qual o ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, entregou o arquivo, que ficou sob a guarda do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF). O VT foi visto na íntegra, pela primeira vez, em sessão na sede da Polícia Federal, em Brasilia, dia 12 de maio. A plateia foi um seleto grupo de autoridades envolvidas em inquérito instaurado pela Procuradoria Geral da República (PGR), a partir da denúncia de Moro.

O presidente e o Procurador Geral da República, Augusto Aras, tentaram fazer com que o VT fosse bloqueado e não aberto na integra, mas o ministro Celso Mello não aceitou e manteve a integridade do documento. O passo seguinte é o da quebra total do sigilo, o que interessa a Moro, mas enfrenta resistência no Palácio do Planalto.

O fato é que, até aqui, aos que assistiram o VT, ficou claro que o presidente queria trocar o comando da Federal no Rio de Janeiro pra proteger sua família e amigos. Em depoimento à Federal, depois de verem o VT, os três generais que dão sustentação ao chefe, no Planalto, acabaram dando informações que confirmam as suas falas a respeito do assunto. Perguntado sobre “que parentes e amigos foram citados, por exemplo, o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), disse que pra lembrar desses detalhes, teria que “ver o vídeo de novo”.

Durante a reunião, chegou a haver bate-bocas e, num momento de exaltação, se dirigindo ao então ministro Moro, o presidente teria dito, em voz alta e na frente de todo mundo: “Não vou esperar foder alguém da minha família; troco todo mundo da segurança; troco o chefe e troco o ministro”. Dois dias depois, ele, de fato, trocou quem conseguiu, até o ministro.

Aproveitando o clima da reunião, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, resolveu xingar o Supremo Tribunal Federal (STF). Disse que os ministros daquela corte eram “bandidos”, que deveriam “estar na cadeia”. Suas falas receberam sinais de concordância e comentários de colegas presentes à reunião gravada.

Já o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, resolveu desancar a China, num gesto muito pouco apropriado ao cargo que ocupa. Ele voltou a acusar os chineses de terem criado o Coronavírus – e até chamou o vírus de “comunavírus” – e disse que a China se aproveita dessa crise pra difundir o comunismo, o que estaria fazendo “através de entidades internacionais”.

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